domingo, 21 de setembro de 2025

Das primaveras gentis

 



Na calada da noite, o vento sussurrava o que as mentes pragmáticas já vivenciavam e silenciavam...

Entre bandolins e araras azuis, vimos nossos caminhos se distanciarem

Àqueles que o destino insistia em tentar  aproximar.

As vielas, as estradas tortas e contorcidas, estreitas... Florida e resplandecente mata virgem!

Em meio à exuberante beleza do ser e do estar

Aqui e em nós, a sós,

Ninguém mais sabia onde nos encontrar

porque já éramos o pó e o reflexo de Deus

na significância de cada gesto, cada suspiro, cada respiro...

Uma gota de esperança ainda ligava o fio de nossas vidas, já entrelaçadas para sempre

Na eternidade dos corpos carnais, viscerais, urgentes por viver o hoje

Sem um futuro que trouxesse paz, alívio, refúgio, consagração divina. 

Julgavam-nos: "loucos e alucinados, animais indomáveis e não domesticados"

Mas no âmago de nossas almas, só nós sabíamos 

que o respeito e a admiração mútuos nos uniu, enfim, para um começo sem final feliz, em mais uma primavera gentil.


Por Helen Waqas 

Em 21 de setembro de 2025.




sexta-feira, 11 de abril de 2025

Da falta dos "A"s

Poemas para noites de insônia e inquietação. Dedicado a um amor com sabor de fruta mordida sheakesperiano.

Das letras que formam o mesmo nome

Fazem-nos a mesma carne

Porém nelas falta ar, falta o "A".

Nelas há os filhos que nunca te dei

E aqueles que não virão depois de nós.

Da falta da letra, nossas diferenças se atestam 

Na forma de falar, de comer, de sentir e de se despir...

Na forma que tuas mãos buscaram 

A falta do ar, fez-se a amizade, o afago, o ardor, o amor... Na falta do "A"!

E nenhuma falta impera

Quando a conexão é genuinamente consanguínea, é eterna.

As letras parecem repetir o passado

Mas ainda falta aquele "A", aquele ar, naquele lar...

Porque "eu vejo um museu de grandes novidades

Mas o tempo não para

Não para, não para"...

Por Helen Waqas, em 10 de abril de 2025.