domingo, 18 de janeiro de 2009

Uma artista

Hoje descobri que não sou uma artista. Não uma artista completa, com todas as suas peculiaridades, todo o egocentrismo e egoísmo que ofício requer... Ou seria um dom?! Irônico. Como os artistas que chegam ao lugar onde realizam seu sonho, pelo que sempre buscaram: O SUCESSO. Simplesmente não sou.
Depois de realizados os sonhos dos artistas, com o que mais eles poderão sonhar se gastaram todo o seu tempo com eles mesmos e o mundo foi ficando para trás... Eu não sou a artista que um dia eu sonhei. Mas amo com a mesma intensidade que os artistas todas as poucas coisas que já conquistei, filhos, marido, trabalho... E isso não seria negligenciar minha arte?
Não me conformo com um sonho só. Se todos os dias que acordo são diferentes, minhas roupas não são as mesmas de anos atrás, meus sapatos foram doados, se meus seios estão se rendendo à gravidade, então, se cada dia é singular, porque eu deveria ter um sonho só, com tantos dias por viver? Devo admitir que gosto de amar para viver, assim como os artistas que vivem para amar. Então, será mesmo que não sou uma artista? Será o meu talento não estaria na paixão pela vida? Viver não seria uma arte? Quem poderá julgar? Quem vai dizer que não? A relatividade também é o enigma que não se tem resposta, porque a sua subjetividade não se pode mensurar. E faço arte quando vivo assim, inspirada por idéias novas que sempre virão, amores, o gosto do vinho, a batata frita, a lanchonete da esquina, uma rua sem saída, a moça sentada na sala ao lado, a grávida, o café quente, a negra que dança no carnaval, a unha encravada, dias quentes de sol, mais um filho, ruas engarrafadas, pilotos de avião, rios poluídos, o batom vermelho, nosso sonho de pijama... A poesia...


Por Helen de Sousa_18jan09