quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Vida Secreta das Palavras

"A palavra, a mais antiga e extraordinária invenção da humanidade, já dizia o general romano Catão (Macus Porcio Cato 234 a.C - 149 a.C ), é dom de todos, usá-la com sabedoria é para poucos.
As palavras têm vida própria, têm seu tempo. São concebidas a partir de idéias, sensações, pensamentos, sentimentos e intenções. Nascem das diversas formas de expressão e, então, não mais obedecem. Têm as suas preferências. Se “empatizam”, são solidárias, se juntam e vão pra onde querem. Se unem aos seus congêneres, rejeitam o que lhes fere. Seus vínculos são vivos e dinâmicos. Identificam seu complemento, formam frases e anseiam mais.
São independentes, não se subordinam. Não por rebeldia e sim por clareza de vocação.
Quando nos damos conta, lá estão elas, as palavras, se ajeitando num parágrafo, num texto, como partes ou toda a narrativa. Donas da história. Realizadas e serenas ou incomodamente desajustadas.
Quem escreve é hospedeiro, parte do processo. Via de libertação. Empresta o seu mundo para que as palavras possam, enfim, cumprir sua missão: instigar os corações inquietos concedendo-lhes os benefícios da dúvida, fartar o desjejum dos cérebros despertos, dar sentido e uma certa ordem ao caos que nos rodeia e ao caos que nos habita.
Como as pontiagudas terminações dos arados, preparam as mentes férteis para o plantio.
Se felizes, serão belas obras, breves ou eternas. Medíocres, servirão aos seus iguais. Infelizes, serão efêmeras existências que, sem legado, morrerão sem luto."

Por Maria Balé