quarta-feira, 25 de julho de 2018

Uns tantos outros bichos



“Nem tudo que reluz é ouro”, assim já dizia o poeta.
Viver é bem mais do que trabalhar sorriso faceiro. 
Felicidade virtual é ouro de tolo, “aqui a vida é real”! 
Desprender-se de si é tão mais complicado do que pagar contas.
Ter culhão para enfrentar as dores dos tombos... Há que ser muito sóbrio.
Deve haver sobriedade para admitir o erro, a incapacidade.
E como enfrentar a sobriedade da vida sem a marca registrada do insucesso, a dissimulação?
Não há de haver mentiras, conchavos, inveja... É difícil, quase impossível. Mas há.
E nesse mundo louco, onde as ordens se invertem, onde o sucesso significa a qualquer custo satisfazer-se, cada vez torna-se mais longínquo VIVER com todo o poder que a palavra requer.
É difícil voltar ao lar quando não se construiu um.
É difícil amar quando só se soube violentar o amor.
É difícil sorrir quando não se sabe o porquê.
É difícil ver-se incapaz de mudar uma realidade árdua... 
Hoje vi meu filho inquieto, impaciente, clamando por amor. O amor de quem nunca soube amar. Ele buscava, aflito, o cheiro, o toque, a presença...
E nessa diversidade de sentimentos, na falta ascendente de atenção, carinho, ternura, me atrevo a exceder no amor a ele dispensado, sem saber se isso o tornará forte ou mais um frágil e incompreendido ser.
Dou-lhe meus braços, meu peito, meu sorriso, minha dor, minha liberdade, minha individualidade, meu orgulho, minha privacidade... Porque nunca recebi mais.
Dou a ele o que sempre quis, a mãe que sonhei pra mim das famílias que admirei um dia.
E quando estou triste, me pego cozinhando com mais amor, limpando as impurezas do lar que construí, batendo de frente com uma multidão de hipocrisias, vestindo minha couraça...
Porque o mundo está infestado. E fingir-se de rato é muito mais fácil do que vestir a couraça de HOMEM de verdade!
E muitos fogem... Da responsabilidade, da culpa, dos amores, da dor, da vida.
Tornar-se eternamente responsável pelo que cativas é para poucos.
E assim seguimos todos, cada um vestindo o que lhe apraz. Uns ratos, uns homens, outros tantos outros bichos, nessa selva desvairada chamada VIDA.

Por Helen de Sousa Waqas
25 de julho de 2018