Um diário virtual onde ficarão registrados acontecimentos cotidianos de uma professora brasileira, de vida comum, num lugar comum, porém com uma personalidade peculiar e pensamentos singulares.
Este blog retratará confissões sobre um relacionamento entre mãe e filha, e como isso afeta diretamente o restante de todo o meu trajeto pela Terra nesta vida, inclusive o meu relacionamento com os meus filhos!
Hoje faz exatamente 4 meses que pisamos em terras estrangeiras. Deixamos para trás nossos laços familiares, amores, bicinhos de estimação, casa, conforto do lar, comodidade da vida já conhecida, e afundamo-nos no desconhecido em busca de menos violência, mais oportunidades na vida, reconexão.
Não tem sido uma tarefa fácil. Em 4 meses nos mudamos de casa duas vezes já. E toda mudança é um grande PARTO, em todos os sentidos que a palavra pode ter.
Em julho foi lindo chegar, mas foi aterrozirante, desesperador e cansativa a busca por um novo lar. Desembarcamos em Porto, no mesmo dia em que o Papa Francisco chegava, também, a Portugal, dia 29 de julho de 2023. Foi uma bênção e um suplício! Sem estadia em quase lugar nenhum, tivemos que nos contentar com um aluguel caro, porém numa casa que parecia ser ideial. Parecia, pois na primeira semana nos deparamos com móveis velhos, camas empoeiradas e um amigo rato dentro do sofá! isso mesmo. Um rato dentro do sofá! Sem contar também no forno e geladeira que não funcionavam direito. Pagamos caro por uma moradia (casa) de 3 quartos com uma vista linda, supostamente "mobiliada", porém inabitável pelos 800 euros a que tivemos que nos submeter. Até aqui as coisas poderiam se ajustar, mas já em setembro, volta às aulas, percebemos a dificuldade na locomoção diária para Braga, cidade/concelho onde estavam a minha Universidade e a escola do Miguel. Ônibus - ou autocarro, como eles chamam aqui - para Braga só tinha de hora em hora, e na volta para casa só teríamos a disponibibilidade deles até as 19h40, depois disso, tinha que voltar de Uber, e morrer em 18 euros aproximadamente ou voltar para casa por 40 euros de táxi. Inconcebível, impossível! A sobrevivência, vivendo em Póvoa de Lanhoso, Braga, entre 07 de agosto e o final do mês de setembro não foi fácil. Nada fácil!
Chegada à conclusão que teríamos que nos mudar, a imobíliária foi avisada e, coincidentemente, consegui meu primeiro trampo, autônomo, como prestadora de serviço, na área educacional. O trabalho é uma hora por dia, prestando apoio à educação como mentora em diversas escolas públicas de Braga. O salário não é dos melhores, mas já é uma ajuda para quem acabou de chegar!
Segundo passo, depois de toda a burocracia para tirar documentação no país e o tanto que se gastou com isso, vem a mudança para o centro de Braga. Conseguimos um apartamento numa rua atrás da Universidade. Localização ótima. Uma escola de ensino básico atravessando a nossa rua, mas sem vagas para o Noah. Outra labuta que foi a transferência dele de Póvoa de Lanhoso para Braga. Sem vagas nas proximidades, ele foi transferido para uma escola em Palmeira, longe para caramba de onde passamos a morar. Quatro ônibus por dia para a locomoção do moleque. Sem noção continuar lá! A sorte grande foi eu ter dado a minha primeira aula para uma turma de 1º ano numa escola em Braga, onde havia uma única vaga para a série dele e local em que conseguimos a matrícula na turma, depois de muito sacrifício, correria, lágrimas e súplicas!
Quando as coisas pareciam bem, entrando nos eixos, uma infiltração no apartamento, em pleno outono chuvoso de Portugal, nos obrigou a mais uma mudança! 😓 Mais uma morte lenta curta. É um processo tão complicado mudar de um bairro para outro, são tantas coisas a serem redefinidas que dá cansaço só de pensar. Mudança de domicílio requer solicitação de mudança junto à Freguesia, para fins de comprovação escolar, passe estudantil, mudança de conta de água, energia, telefone, internet... Cansaço é a definição! Mais um mês na labuta por estabilidade, pelo menos domiciliar. Isso tudo em meio a aulas na Universidade, trabalho no final do dia, meninos dando crise de ansiedade... Mais sufoco! 😥😰
Mentalmente esgotada, consegui gerir mais uma vez essa mudança. No entanto, o emocional vinha debilitado. Sobrecarregada, pressionada, incompreendida, vim tentando pensar no porquê de tudo isso e real sentido na minha vida! Sim, na minha, porque o propósito inicial era pensar no futuro dos meninos, dos meus meninos: Miguel que já está no Ensino Médio, tendo a oportunidade de se formar no Ensino Secundário na Europa; Noah que reiniciará os estudos em Portugal e assim terá acesso ao um outro sistema de ensino, diferente do Brasil; e, Aaron, que ingressará na vida estudantil em uma nova perspectiva educacional. Como educadora, esse é o cenário perfeito, inovador, impulsonador, inspirador para continuar a reunir forças e não fraquejar. Certo? Sim!!!😊💪🙏
Neste mês de novembro, em meio a tanta chuva, tantos desafios, tive vontade de voltar. Pela primeira vez em semanas, tive saudades do Brasil. Fraquejei. Sinto falta da minha casa, das minhas comodidades, principalmente das minhas gatas e cachorros, da família, dos amigos... Fiquei me perguntado tantas vezes por quê eu tinha que sofrer tanto para estar aqui e qual o sentido daqui para a frente. Minha vontade era desistir mesmo de continuar em Portugal. O primeiro objetivo que incluía o pai dos meninos, já não faz parte das minhas prioridades. E pode parecer egoísta esse pensamento, mas não é. Só eu sei o que estou passando, por mais que queriam desmerecer ou diminuir o tamanho do meu sofrimento, do nosso sofrimento (de todos que aqui estão). Então só me vêm a cabeça cinco ou seis anos à frente e o futuro dos meninos. Vou tentando aguentar com todas as forças e ressoando no meu cérebro as palavras que ouvi de tanta gente: "você é muito corajosa!". Todos que um dia pronunciaram essa frase para mim não imaginam o desafio que é estar aqui com três filhos menores de idade, entre eles um bebê de quase dois anos, e minha mãe que com tantas mudanças acabou por ser minha filha mais velha! Ser corajosa ainda é pouco...rs
De toda forma, estou feliz que conseguimos chegar até aqui! Não tenho muito o que reclamar da forma com que fomos tratados até agora, apesar da resitência de alguns portugueses, na sua maioria os idosos, eque resistem a estar convivendo conosco, grande parte dos nossos amigos são protugueses, por incrível que pareça! Vizinhos que nos auxiliaram bastante com afeto, carinho, doações e nos fizeram sentir bem quistos e motivados a viver em Portugal. Igualmente curioso, não temos muitos brasileiros como amigos, dois ou três, e em sua maioria, são homens nos auxiliando!
Bem, de início, essas são as principais considerações sobre migrar para Portugal com três filhos e um mãe. Outro detalhe importante a ser considerado é como este país é patriarcal! (Luana Piovani nunca esteve errada sobre isso). Como as tradições daqui são ultrapassadas e arraigadas a uma cultura machista, racista, xenofóbica - demonstrado principalmente nas aldeias, interior do país! E por isso estão tão aquém de outros países europeus! Agora entendo.
Dos registros, que mais parecem turismo, ficam os principais gravados aqui neste post. Aproveitamos para tirar fotos enquanto conhecíamos a cidade, resolvendo as burocracias da vida!
Turismo mesmo, só na chegada ao país, no primeiro final de semana que me permiti descansar um pouco.
Em resumo, cidades lindas! País de paisagens realmente deslumbrantes. Ao caminhar pelas ruas de Braga, no trem, no ônibus, a mente remete sempre às imagens dos livros, filmes e séries a que fomos acostumados a imaginar os cenários reais. Nessas horas de vislumbre, o pensamento é que isso tudo aqui vale a pena!!!💙💙💙
