segunda-feira, 5 de abril de 2021

Nossa Páscoa de 2021


Hoje tivemos mais uma Páscoa marcante no calendário das nossas vida. É a segunda Páscoa em discórdia em três anos. 

Eu poderia estender a minha última confissão sobre o texto que escreveria sobre meu irmão, sobre nossa relação, mas não estou com inspiração para isso, simplesmente por reduzir a nossa relação à ausência dela. É estranho. Pode ser compreensível mas eu não consigo aceitar o distanciamento de duas pessoas que viveram juntas por anos e que têm laços sanguíneos fraternos. É inconcebível na minha cabeça. Por estar sendo imatura pensando assim, mas isso também faz parte do meu crescimento, em todos os sentidos, como irmã, como mãe, como filha.

Bom, o dia começou estranho pois desde sexta-feira, santa, um feriado importantíssimo no meu calendário espiritual, a casa já respirava um ar pesado, e pra variar, por causa de grana. Após perder mais uma batalha contra a vida material, minha família, como sempre foi, não está sabendo lidar com as perdas materiais. E em plena sexta-feira santa discutia-se o futuro, girando em torno dele o famigerado dinheiro! E nessa guerra, eu sempre perdi, dando lugar ao calvário que é ter que aguentar as acusações... Já acostumada, mas isso não quer dizer que não doa e muito!

As crises se ansiedade voltam com força. Em crise desde sexta, ontem eu queria ter saído, respirado, tirado um tempo pra mim. Mas não o fiz. Noah chorando desde cedo porque o pai, sem paciência para conversar. Meu sangue vem nos olhos quando isso acontece. Saio de mim. Então, o sábado começou com brigas, discussão, gritos, choro e corações partidos, feridos... O meu está em pedaços. O máximo que consegui fazer por mim foi ligar para minha amiga Emanuelle (Mendes) e desabafar um pouco e tentar ouvir outras coisas fora da minha própria realidade. Na verdade, eu queria ter falado com algumas outras pessoas, mas tentando ser leve, não quero pesar para muita gente. Não tava mais com cabeça para ouvir muito nem falar. Passei o dia retraída. Como há muito tempo venho vivendo...

A verdade é que eu queria sumir, estar num lugar distante de mim mesma, das pessoas que me amam e que eu não consigo compreender ou que me compreendam. Eu queria estar longe com meus filhos. Às vezes baixa um sentimento Medeia, egoísta e covarde, mas a vontade é tê-los comigo, só eu e eles. 

Ouvi conselhos de várias pessoas, muitas vezes, tire um tempo pra você. Mas eu não consigo deixar o Noah aos cuidados da impaciência, agressividade e ignorância alheia. É como se, sendo a mãe, só eu tivesse o direito de errar com eles nesse sentido, por toda minha instabilidade e desequilíbrio emocional! Mas aqui em casa todo mundo está doente. E, infelizmente, isso afeta o desenvolvimento deles, substancialmente.

Sentei no meio fio e passei uma hora ao telefone. Consegui aliviar um pouco o peito.  O dia passou. 

Hoje, para café da manhã tivemos choros, gritos, lágrimas, criança assustada, filho mais velho vindo acalmar o coração, tentando apaziguar os ânimos exacerbados de um domingo de Páscoa na minha casa. Minha vida sendo minha vida...

Para você que sonhou com churrasco ou uma boa peixada em família, esqueça! O convite para churrasco e piscina foi negado e ficou apenas para o pequeno desanuviar. Mas no decorrer do dia nem ele pode desanuviar. A promessa da avó de levá-lo para confraternizar com os primos ficou só nas palavras porque depois de tanta rinha, acabei levando o Noah comigo, como sempre faço, porque não consigo o reconhecendo ou apoio que gostaria de receber desde que engravidei. É uma luta pra conseguir um "habbeas corpus" de vez quando, para estar com as pessoas que gosto ou até para estar um tempo comigo mesma. Faz tempo que não sei o que é isso... Segunda maternidade e casamento, e eu só consigo, neste instante, sentir-me completamente presa e sobrecarregada. 

Miguel foi lindo hoje. Tentou apaziguar. Tentou tirar a atenção do Noah para tudo o que tava acontecendo. Me deu força e apoio. Ele nunca se mete mas brigas, mas quando preciso tá sempre ali, ao meu lado, às vezes em silêncio, só para estar... Nos momentos mais difíceis ele tava aqui comigo. Isso é muito gratificante. Dá sentido a todo o meu amor e renúncia de mim mesma por eles! 

Como um sinal da minha extrema conexão com Deus, peguei o meu celular pra fugir da realidade amarga que tava sendo minha manhã de Páscoa e recebi uma notificação "Padre Fábio está ao vivo". Entrei no Insta. A missa tinha acabado de começar. Foi lindo! A cerimônia tava linda. Continuei chorando e orando. Pedindo perdão, agradecendo a Deus pelos meus filhos. Pedi força. O fardo não está fácil. Com essa pandemia todas as questões ficaram ainda mais delicadas e para mim, me fazem parecer estar vivendo uma realidade paralela, em outro mundo, onde não consigo comungar nada que me rodeia. Fica difícil querer levantar da cama, às vezes. Só rezei e me entreguei àquele momento...

O Amir entrou no quarto para me pedir desculpas. Tive uma crise de choro e não conseguia parar. Copiosamente eu soluçava, não queria ser abraçada por ele, eu não queria aquele pedido de perdão, eu não queria esta vida, eu não queria estar aqui. Eu só conseguia acusá-lo da covardia por usar minhas fraquezas para me desestabilizar ainda mais. Então eu tremia, o coração estava em disparada, as mãos suavam e de novo eu não queira estar aqui. Eu não queria estar morando num condomínio de luxo, numa casa confortável, mesmo que vazia, em todos os sentidos, eu não quero mais pagar por esse preço, eu só queria ter paz!

Terminei de assistir minha missa. Tomei um banho e decidi visitar minhas amigas, tentar esquentar o coração com quem estivesse longe de imaginar o meu sofrimento, e de certa forma de levasse pra longe da minha realidade hoje.

Desci, dei almoço para o Noah e conforme combinado, eu no meu romantismo barato, achei que minha mãe teria compaixão e ficaria com o Noah pra mim à tarde. Mas a minha realidade sempre foi bem distante das expectativas, daquilo que imagino que poderia ser. Lá vamos nós de discussão, mais uma vez, porque eu ia precisar do carro que nem é mais dela, mas é, e porque eu ia sair sem hora pra voltar. Depois de uma batalha de força e orgulho, resolvi levar o Noah comigo. Com coração doído porque ele não iria estar com os primos da idade dele, não iria aproveitar o dia na piscina, não iria desestressar, mas orgulhosa e pensando nele também, passamos a tarde na casa da Manu (Mendes). De lá passei pra ver meus pupilos, Leda e Rodolfo, e voltei um pouco mais leve. 

Hoje queria ter sorriso pra lembrar deste dia. Queria que o dia tivesse sido leve. Queria ter uma enviado mensagens bonitas de Feliz Páscoa, mas como dizem que só damos o que temos dentro de nós para dar, eu não consigo dar o meu melhor pra ninguém, eu não estava leve. E para não ser peso para ninguém, decidi continuar no meu estado ostra até conseguir vir aqui desabafar. 

E sobre meu irmão, até hoje voltou de viagem, depois de mais de um meio fora do Brasil e nenhuma mensagem de Feliz Páscoa fomos capazes de trocar. Mas quem sabe ele tivesse vindo aqui hoje e o banquete tivesse sido servido. Acho que a mágoa dele tem a ver com as desavenças entre mim e minha mãe. A expectativa é que sempre alguém intervenha com mais amor e carinho, mas como falei antes, ela é sempre bem diferente da realidade.

E para eu ser mais eu no meu post, vou de músicas que marcaram meus últimos três dias...

Por Helen Waqas

Em 04 de abril de 2021