domingo, 26 de dezembro de 2021

Das crises de estresse

São 02h27 da madrugada. Resolvi começar a escrever para ver se me acalmo. Desde meados de abril, maio, não as tinhas, as tais das crises de estresse.

Iniciado um período avaliativo com profissional de saúde especializado em ajudar quem sofre de crises de estresse, ou seja, os psicólogos, hj me peguei numa angústia braba com direito a falta de ar, descontrole emocional etc. De umas que não tinha desde dezembro do ano passado.

Há uma semana mais ou menos venho sofrendo com insônia e crises de choro contínuas, além de umas dormências nas mãos e nos braços, que parece ser uma Síndrome do Túnel do Carpo, desencadeada pela gravidez, e um inchaço nos pés que volta e meia se faz notar, mesmo ainda estando na metade da gestação, com 22 semanas. Hoje no final da tarde, sozinha em casa, me peguei chorando copiosamente, com falta de ar, um nervosismo incontrolável. Comecei um processo de respiração profunda para tentar centrar as ideias, os sentimentos se acalmarem e tentar sair daquele estado, pois os meninos estavam chegando da escola. Consegui parar. Mas agora, ao acordar às 02 da madrugada, não consegui parar de chorar.

Há uma semana tive uma discussão com minha mãe porque ela voltou com a ideia de vender a casa dela, observe A CASA DELA,  mas que de certa forma faria parte dos meus planos de curto prazo, tendo em vista a minha volta da Paraíba, depois de uma crise aguda de estresse por lá e me vendo sozinha com o Noah. Assim, tentou-se uma trégua por um tempo, até pela ausência do Amir, e da chegada do Aaron, daqui a uns meses. Mas esse "curto prazo" durou muito pouco ou muito menos do que eu imaginava, pois a trégua acabou assim que o Amir saiu da prisão, na imigração do Texas, EUA. Meu planejamento era levar uma gravidez tranquila, ter o Aaron num ambiente mais saudável, sem muitas preocupações (já com questões suficientes para pensar, desde a saída do Amir do país), inclusive já havia até arrumado o quarto dele e do Noah esperando a chegada do pequeno, mas como sempre foi, minha vida não é esse mar de rosas que aparenta ser. Lá vou eu para mais um lance decisivo em plenos 5 meses de gravidez!

Saber que vou ter que encarar a vida adulta, sozinha e essa instabilidade psicológica, mais uma vez, despertaram meus gatilhos e hoje eu só consegui procurar imóveis pra alugar, chorar, acordar no meio da madrugada, mandar mensagem para o marido que se encontra em outro país, e vir até aqui tentando um alento para a mente. Li em algum lugar que escrever tudo que vem à mente, acalma. Lá não nada escrito sobre publicar, mas como gosto uma purpurina e holofote...

Nesses dias de sofreguidão, cheguei à conclusão que me apavora a ideia de ter que viver sozinha, tendo todas as responsabilidades de uma casa e filhos nas minhas costas, mesmo com qualquer ajuda financeira ou com todo o financiamento sendo mesmo custeado por alguém. A questão não é o dinheiro mas o não ter com quem dividir responsabilidades, com quem compartilhar, na prática, a vida real. Acredito que isso me assusta. Quando morei sozinha no Rio, mesmo sendo "bancada por mamãe" até conseguir terminar meu curso, me vi em depressão quando me peguei fazendo compras sozinha, sem ter com quem compartilhar a vida nos finais de semana, sem ter com quem desabafar ou alguém realmente responsável que pudesse me dar um abraço sincero, consolador e compreensivo;  e se não tivesse engravidado do Miguel, teria voltado para Brasília pouco tempo depois, pois já fazia parte dos meus planos estar por aqui por causa do meu estado depressivo que só piorava vivendo longe da família.

Hoje eu tenho certeza que me ver diante da possibilidade de ter que fazer tudo sozinha, de novo, como foi na Paraíba no final do ano passado, só que agora com duas crianças pequenas para engrossar o caldo, não será nada fácil!

Eu não tenho medo de crescer, de assumir responsabilidades, também já cheguei a essa conclusão. O que me assusta é me ver sozinha para tudo. Sei que existem milhões de pessoas que conseguem, que sobrevivem, mas cada um tem a sua história e cada um reage de um jeito aos sopapos que a vida nos dá. Eu tenho plena consciência que não nasci para viver sozinha, sem um(a) companheiro(a), sem cumplicidade, sem carinho e afeto sinceros.

Tudo tem um preço. E, nestes anos todos que vivi debaixo do teto da minha mãe, mesmo ensaiando por diversas vezes o desvencilhamento real, o corte real do cordão umbilical, desde o meu nascimento, sempre pensei no bem estar que estaria proporcionando ao Miguel, e depois ao Noah, se estivéssemos todos juntos sob o mesmo teto, além é claro da comodidade de morar na casa mãe. Mas como eu disse, tudo tem um preço. E a partir de agora vou ter que pagar um preço bem salgado para conseguir continuar proporcionando essa vida,  sem muitas necessidades, aos meninos. Já decidido com meu marido presente/ausente, que a ida dele para tão longe em buscas de seus ideais vai ter que render algum fruto para quem ficou aqui, no caso para os filhos dele. Decidimos que iremos para um lugar alugado, eu e os meninos, com a ajuda dele até que eu possa voltar a trabalhar presencialmente, depois do nascimento do Aaron. E eu, mais uma vez, como diria um amigo, estarei na dependência de alguém. Mas não tem jeito, por mais que eu lute contra, a minha vida sempre foi assim, e é um ciclo que parece não ter fim. Sempre que tento seguir em frente, alguma coisa me puxa de volta e estou sempre decidindo meus passos ligada a alguém ou alguma vida que me prenda e me dificulte viver a minha vida própria.

Outro dia tava pensando, não é possível que passemos por todas as fases da vida exatamente como os outros ou, em alguns casos como o meu, que tenhamos um destino planejadinho como o de muitos. Muitas pessoas vão estudar, se formar, casar, ter filhos, comprar casa própria, ter o carro do ano etc. Outras não nasceram para casar ou ter uma casa própria, ou ainda, não terão filhos. Não existe uma fórmula pronta de felicidade. Cada felicidade é uma, e as felicidades são únicas de cada um.

Como dizem os especialistas, saber reconhecer-se na vida, os próprios erros e acertos, tentar corrigir em tempo tudo aquilo que identificamos como inassertivo, na tentativa do acerto, é o mais importante. Os percalços sempre existirão. Saber levantar-se depois da queda é que o grande lance da vida.

Outro dia perguntei a uma amiga, cordialmente, se ela estava bem. Ela me respondeu que era sempre muito complicado responder a essa pergunta de forma sincera e sucinta. Eu prefiro deixar a diplomacia e positividade para "os acentos" do dia a dia. Para dias como o de hoje, eu deixo as letras e toda a complexidade de uma mente humana expressa numa página de internet, que não sabemos até que dia irá existir, assim como nossa vida passageira por aqui.

A única coisa que tenho certeza hoje é não quero, e nem consigo, deixar nenhuma vida para trás. Não consigo me desvincular com facilidade de quem acabei ligada nesta vida pela responsabilidade apenas de ser amor, colo, afeto para essa pessoa ou animal (confesso que não consigo deixar meus cachorros e gatas para trás também). E todos vão aonde eu for desde então!

E como eu pedi ao Amir, vou deixar o que de mais importante penso sobre a vida, para aqueles que optaram por extender a sua vida própria para além, por meio dos filhos: tenha sempre a vida dos seus filhos como primeiro plano na sua vida. Não esqueça que dinheiro não compra tudo, em qualquer idade que seja, desde a infância à vida adulta. O que fica gravado na mente e na alma são todas vivências da afetividade, do carinho e da atenção que recebemos nesta vida, principalmente dos pais. Presença, de fato, vale muito mais do que mil bens deixados de herança ou acúmulo de riquezas materiais. 

Aos meus queridos meninos, todo amor do mundo, daquela que literalmente vive, e viveu, exclusivamente para vocês!


Por Helen Waqas
Em 10 de setembro de 2021




quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Porque "Cartas para Eles"

Quando eu criei este site, de início, era somente para postar alguns pensamentos poéticos, devaneios, extravasar as palavras que por muitas vezes não queriam  calar dentro de mim.

Com o tempo tentei me adaptar à moda "blogueira" da época, mas não tinha visualizações suficientes para sucesso na web. Desanimei de continuar escrevendo "para ninguém".

Passado isso, resolvi apenas continuar escrevendo para não silenciar os meus sentimentos, continuar extravazando e deixar qualquer legado, por escrito, eternizado para os meus filhos. Quando eu me vi apaixonada pelas letras, pelas histórias, pelas personalidades históricas da literatura e da arte brasileira, e mundial, sempre pensei que gostaria de saber cada detalhe, o máximo possível, da trajetória da vida minha em relação à vida da minha mãe. Queria saber sobre pensamentos, sentimentos, momentos especiais e diferentes na vida dela, tudo que nos tenha trazido até aqui, ao que nós somos, e nos tornamos. Nós nunca tivemos um relacionamento de cumplicidade, de amizade, de compreensão mútua entre mãe e filha, então, isso era muito importante para mim, saber os pormenores dessa contrução relacional. 

Como as coisas nunca foram tão simples e descomplicadas na minha mente, quando me tornei mãe eu disse que ia fazer tudo diferente! A teoria é linda, mas sabemos que na prática não é bem assim... E escrever para os meus filhos estava na lista dessas coisas "diferentes" que eu queria fazer. 

Sempre tive o sonho de ser mãe. Sempre foi a minha maior ambição. Eu queria ser mãe de três filhos. Achava que dois irmãos era muito pouco numa casa, numa família. Talvez por sermos só eu e meu irmão, e hoje não sermos tão próximos e cúmplices como eu gostaria, e apesar de ter sido criada até os 16 anos com minha prima que se tornou minha irmã, sempre acreditei que três era um número bom para o convívio entre parceiros de caminhada. Hoje tenho certeza! 

O 3, espiritualmente falando, tem uma simbologia muito interessante pois significa a união do corpo, do espírito e da mente. No cristianismo, significa a trindade - Pai, Filho e Espírito Santo.  Para os maçons ele simboliza a luz, e representa a vontade, o amor e a inteligência (sabedoria), qualidades cultivadas no aprendizado e crescimento moral e espiritual. Em geral, ele também representa a comunição. Na teologia e em outras ciências é considerado o número perfeito. Para mim, o 3 significa o início da eternidade. Duas figuras do número três juntas formam o 8, meu algarismo predileto. Ele representa o início e conclusão de qualquer criação, além da justiça e o equilíbrio de tudo. O algarismo 8  simboliza a eternidade. E o sentido de eternidade é muito amplo, muito vasto, perpétuo. Portanto, o 3 sempre traz essa expectativa de renovação e continuidade, da vida, dos sentimentos, dos sonhos, da humanidade...

Mas voltando ao sonho de ser mãe, três filhos ou filhas para mim seria perfeito. Primeiro veio o Miguel, impávido, sereno, num ineditismo que só poderia ser dele, me ensinando a ser mãe e me reconhecer como mulher neste mundo. Foi uma transição tranquila, cheia de novidades, descobertas e conquistas importantes. Me conectei com Deus de novo e mais ainda. Entendi o sentido de tudo. Eu agora sabia o que era o amor genuíno! Depois tivemos a nossa pequena Aisha que passou por nossas vidas num momento conturbado, numa terra infértil, num momento de desolação e angústia. Por cinco meses ela foi a única alegria e esperança de dias melhores. O medo da maternidade feminina até passou naquele momento, durante a sua estada em mim. Mas o destino dela não tinha rosto, não tinha o toque, somente o coração. E foi isso que ficou da minha pequena para mim. Então, somente um mês após a perda da nossa pequena estrela, ele veio, impiedoso com sua doce bravura, cheio de saúde e alegria, com um sorriso largo que resplandecia os quatro quantos da casa - o Noah estava do volta à Terra! O caçulinha, cheio de força, temperamental ao extremo, capaz de estremecer o mundo com sua personalidade meiga e carinhosa, e o seu jeito turrão, mesmo em tenta infância! E quando eu achei que pararia por ali, pois a idade já não era tão apropriada para iniciar a maternidade, eis que está por vir o meu verdadeiro caçula! Somente na 16a semana que foi possível saber que o pequeno faria parte desse time de gigantes na minha vida. Queria fazer uma homenagem a São Francisco de Assis, mas não sei se será possível pois a multiplicidade religiosa na nossa família ainda não permite uma decisão consensual só minha! (risos) Mas pretendo seguir a linha Renato Russo aqui de casa, e possívelmente "meu filho vai ter nome de santo..."

De toda forma, eu quero que vocês saibam, meninos, e que o mundo saiba, que vocês são a minha vida, são a minha conexão mais íntima com Deus. Vocês são o que de melhor em mim vai ficar na Terra, vai se perpetuar e durar a eternidade. Vocês são meu legado para adoçar um mundo doente, fragilizado pelo egoísmo, orgulho e ambição materialista. Numa era onde ter um filho é quase sempre impensável, ter três, então, é um absurdo na mente da maioria da sociedade capitalista, descrente e ignorante de valores reais da alma: vocês são vida, esperança de um mundo melhor, mais justo, mais respeitoso com todos os seres, principalmente os mais fragilizados pela ação do mal. Vocês devem ser aqueles que farão a diferença, darão o tratamento digno e fraterno às mulheres, aos idosos, às crianças, aos animais e à natureza, e a todos àqueles que são excluídos por apenas existirem, pois é assim que estou tentando criá-los para enfrentar esse mundão afora!

São 04h15 da manhã. Estou com insônia desde às 02h, pensando na vida, em tudo que passei até chegar aqui. Tentando achar sentido nas ausências que a vida me impôs, nos impôs, vem nos impondo... Tentando aceitar as escolhas alheias em acreditar que o dinheiro resolve tudo e é mais precioso que o afeto, que o carinho, que a presença de uma amor verdadeiro. Tentando não pirar com o sofrimento, diário e contínuo, do Noah pelo afastamento do pai, aos 4 anos de idade. Tentando não reviver os meus próprios traumas por não ter tido meu pai ao meu lado, desde os 1 ano de idade e alguns meses. Orando para Deus para que essa onda passe logo e que as sequelas não sejam tão desastrosas como prevejo. Tentando controlar minha revolta com a vida e suas imposições. Sonhando com um amanhã mais suave e próspero, repleto de sorrisos e felicidades entre nós. E sempre, sempre agradecendo a Deus por ter vocês aqui comigo, minha força, minha base.

Acabei de assistir ao jogo do Brasil x Rússia, vôlei masculino, que perdeu, mas que não deixa morrer em mim a vontade de vocês tornarem-se grandes homens como eles, quer sejam famosos, quer não! Eu só quero de vocês aquela força, humildade, alegria e vontade de ser alguém melhor e se superar a cada dia. Feito isso, eu terei cumprido minha missão da melhor forma possível nesta existência!

Aos meus meninos, muito amor e fé em suas vidas!!

Por Helen Waqas
Em 05 de agosto de 2021













quinta-feira, 15 de julho de 2021

Dos elementos vitais

O tempo cura tudo. O tempo também oprime, liberta, deprime, alegra. Mas ele é quem rege tudo, a vida, a morte, a chegada, a partida, a solidão e a companhia mais sincera. O tempo engradece o amor, frutifica, solidifica, une, dá forças para seguir adiante. 

A fé é o que nos faz suportar o tempo passando lento ou na velocidade da luz. É ela quem nos permite sorrir num dia nublado, aquecer as mãos aflitas daquele que sente a ausência ferir cortante as entranhas. Ela é quem nos faz apreciar o sol pelas manhãs e no final do dia, a chuva que regenera, quem nos faz acreditar que Deus existe disfarçado de natureza.

E o amor é aquele que passa para colorir o dia, que perdoa tudo, o egoísmo, a imaturidade das relações, todas as faltas cometidas e assumidas. O amor é o que nos faz ressurgir das cinzas todas as vezes que morremos! É ele que dá sentido à vida, aos caminhos que ela nos leva. Ele rege a alma. Alimenta o espírito cansado. Dá alento ao coração aflito. O amor transforma tudo: a dor em felicidade, a ingratidão em compaixão, o embrião no homem feito!

E são eles que me trazem até aqui. Sozinha e cecada de toda a minha vida pelas vidas que o tempo me trouxe, que a fé permite permanecerem ao meu lado e que o amor consolida a cada dia, a cada lágrima, a cada abraço, a cada semblante feliz que me rodeia. 

Eu já disse inúmeras vezes e repito aqui, mais uma vez, eu sou toda feita dos amores da minha vida: minha família, meus filhos, meu marido e meus amigos!

Porque hoje foi um dia especial. Porque a ausência traz marcas fortes da vida que segue, que continua e não para, esperançosa no encontro do amanhã... 


Por Helen Waqas
15 de julho de 2021




*Texto em homenagem ao meu marido que hoje está há quilômetros de distância da gente. Aquele que tive o privilégio de conhecer e partilhar uma vida inteira nesta existência e por tudo que nós ainda viveremos junto e com os nossos filhos!











Há que se ter...

No mundo de hoje há que se ter muita coragem
Muita coragem para amar
Para sorrir
Para se entregar
Para gerar
Para parir.

Há que se ter muita coragem para ser
E não parecer
Muita coragem para estar.

Muita coragem para sair do estado de conforto do próprio eu
E se responsabilizar
Por um
Pelo outro
Por dois
E por todos.

No mundo de hoje há que se ter muita coragem
Para ser e não perecer em vão.

No mundo de hoje há muitos "e se..."
E não basta somente muita coragem para estar por aqui.



Por Helen Waqas
Em 13 de julho de 2021









segunda-feira, 7 de junho de 2021

Carta ao marido estrangeiro em solo longínquo

Hoje ele acordou chorando em meus braços - o primeiro filho do meu marido paquistanês que hoje está em solo estrangeiro, tentando uma vida melhor, na busca de um sonho, longe da família, sacrificando a saudade do seu grande amor materno, merecedor de muitas bênçãos. 

Daqui ficamos sensíveis, carentes do amor dele, do abraço apertado, do sorriso sincero, da intepestividade que faz parte dessa personalidade forte, desbravadora, altiva, corajosa, doce e amorosa.

Do seu lado da cama fica sempre o vazio e só quem ainda ocupa uma parte dele é a Brisa, a sua gatinha predileta. Eu não tive coragem ainda de deitar no seu espaço. Assim como não tive coragem de doar todas as roupas que você deixou para trás, tanto quanto todos os sapatos e objetos que te pertecem e que havíamos combinado de doar assim que você viajasse. Parece que no fundo fica aquela sensação que você vai voltar daqui a pouco... Aí tô protelando. Mas eu vou me desfazer de tudo assim que souber que você tá bem de verdade!

A dor do "desencontro" não é pela distância recente, mas pela incerteza do momento do nosso reeencontro. 

Tem dias que é fácil passar por isso tudo. Quando não estamos completamente sozinhos. Tem outros dias que ao cozinhar, ouvindo minhas músicas preferidas, qualquer suspiro é um novo derramar de lágrimas, sempre escondido do Noah e dos outros, e porque eu simplesmente não consigo evitar. 

Por mais que nós desdenhássemos da instituição casamento, sempre estivemos aqui, lado a lado, juntos. É dificil lidar com a "solidão" de novo. A força vem da esperança que tá tudo bem até nos vermos novamente e que aqui dentro ainda tem pedacinho seu que tá crescendo cada dia mais e logo, logo, será mais uma fonte de alegria pra mim, para o Noah, para todos aqui em casa!

Mas em meio a isso tudo, neste último mês, ter escutado a sua voz, mesmo que rapidamente, foi um alívio enorme para a minha alma aflita, saber que você está bem, com vida... foi um grande alento.

E cá ficamos, em oração e na esperança de ver você bem de novo, trabalhando, realizando seus sonhos, sorrindo, curtindo a nova fase da sua vida, sendo feliz de novo por você e por nós, eu e seus filhos, e seu enteado!!! 


Por Helen Waqas
Em 05 de junho de 2021

 





quarta-feira, 19 de maio de 2021

A história que não se repete

Esta noite sonhei com um pavão lindo, e o via diante de uma chuvinha gostosa... Meu marido estava comigo nessa caminhada, nesse sonho, nesse dia. 

Muitos sonham em ter muito dinheiro, uma vida estável, viajar para muitas partes do mundo, ter o carro do ano, um emprego bem sucedido... Sonhos são muito peculiares e pessoais.  às vezes a gente até esquece do que um dia sonhou, mas como diriam alguns, os sonhos adormecem, mas não morrem. 

Uns colecionam carros, outros colecionam filmes, músicas, eletrodomésticos, vistos no passaporte, medalhas... Fato é que cada um sabe o que lhe faz mais feliz!

A onda da pós modernidade é ser descolado, desvinculado de qualquer coisa, poder tomar um café da manhã na padaria, acordar em outro estado, outro país, não ter apego a ninguém, não precisar ser responsável por nada nem ninguém, viver viagens incríveis, mostrar um hobbie novo na rede social. Tudo muito "in". Compreensível. Ser família está ficando démodé. Mas o que é mesmo ser "família"?

Eu, como sempre, parece que estou indo sempre na contramão de tudo que muitos acreditam, não sei se isso se chama maturidade, idade avançada, descompasso ou falta de sincronia mesmo com o atual, com o pós contemporâneo. Às vezes me sinto ficando para trás na sociedade, em vários aspectos. Tenho amigos que sem querer me intimidam quando penso em compartilhar a minha vida pessoal, porque muitas vezes a minha vida profissional parece importar mais e impor mais respeito do que aquilo que realmente sou. Mas será o que conquistei não é examente o que sou? E quem poderá mensurar o valor de cada conquista pessoal a ponto de definir o valor de cada pessoa de acordo com essas conquistas?

A verdade é que desde a infância eu dizia que queria ser mãe de pelo menos três filhos.  Como lá em casa somos só um casal de irmãos, sempre achei essa quantia muito pouco! Depois de três gestações, hoje com o Miguel, 14, e Noah, 4, estou entrando na minha quarta gestação, aos 42 anos, cravados! Para alguns isso é maior loucura em meio a uma pandemia, em meio ao caos que o mundo se encontra, à economia e o futuro dela, em meio a uma situação pessoal desfavorável a qualquer rumo novo que eu quisesse imaginar para mim e para os meninos, a curto e médio prazo. Mas estamos aqui, juntos e mais vez  eu gerando uma vidinha. O que é tao mágico que só quem já pode vivenciar essa experiência é que sabe o enorme prazer deste momento. E, sim, mais um sonho meu está sendo realizado. Não como uns imaginam, mas exatamente como eu imaginei um dia!

Hoje li em algum lugar: " Mais do que máquinas, precisamos de mais humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de bondade e ternura." Dizia ser de Charles Chaplin. Não sei a veracidade da autoria, mas eu diria que essa frase define bem o que penso da vida, deste meu momento! Esta talvez seja a desculpa de qualquer pai e mãe que queira povoar o mundo. "Ah, mas existem tantas crianças abandonadas para serem adotadas..." Sim, existem e se fosse tão simples um adoção, talvez não tivéssemos tantas crianças precisando de um lar. Se a vida fosse tão simples, não se resumiria às dificuldades que todos nós temos em lidar com alguma coisa nela!

Mas aniversariando mais uma vez, depois de um ano pandêmico tão difícil como foi 2020, hoje eu passo mais uma data comemorativa de vida com o melhor dos presentes: mais uma vida dentro da minha vida!!


Por Helen Waqas
Em 18 de maio de 2021

 






quarta-feira, 5 de maio de 2021

Novos ciclos e união

Hoje, dia 05 de maio de 2021, e desde a minha última postagem, para variar um pouco, meus pensamentos, e vida, já mudaram em 180 graus.

Tinha um assunto em suspenso sobre meu irmão. Sobre isso, eu só digo que depois vê-lo pessoalmente, mês passado, depois da volta dele, e da esposa, da Inglaterra, ver o seu sorriso, sentir o seu abraço, ver o sorriso dos meus filhos ao poderem desfrutar do "titio" de novo, depois de mais de um ano e meio sem vê-lo, reaqueceu meu coração, levou embora todas as dúvidas e qualquer mágoa que um dia eu tivera em relação a nós dois, à nossa relação. É muito gostoso perceber o amor, receber amor e ter amor por perto. E atesto, nosso encontro foi substancialmente magnífico! 

Hoje, eu venho desabafar sobre a força do destino, sobre tudo aquilo que nunca imaginamos um dia e sobre todos os planos que fazemos e são completamente modificados pelo tal, e poderoso, destino! Ao passo que celebramos a vida, choramos as perdas, a dor do sacrifício que só é entendindo por quem se submeteu a ele por alguma razão específica e íntima de cada um. 

Hoje celebro a liberdade, o livre-arbítrio, a vontade de sermos aquilo que sempre quisemos e podermos realizar esse sonho de verdade. Hoje começa um novo ciclo na minha vida, na vida da minha família, daqueles que o destino escolheu pra mim. Nesses últimos 6 anos vivemos muitas coisas de modo muito intenso, a alegria da chegada de uma filha; sua perda; a  imensa felicidade da chegada de mais um filho abençoado e que nascia cheio de saúde, nos fazendo esquecer a dor da perda da nossa pequena Aisha. Noah veio para preencher um vazio deixado pelo inimaginável destino! Vivemos também a dificuldade de nos mantermos num país falido economica e educacionalmente. Por mais que eu seja da Educação, muitas vezes me vejo remando contra uma maré muito alta, que desanima, que sufoca, que adoece. Economicamente falando, meu marido não aguentou a pressão de estar sempre passando necessidade, incerteza, desesperança de progresso no Brasil. Há três dias de completarmos 7 anos de casamento, eu o apoiei a traçar voos mais altos, a seguir o sonho dele. Hoje estamos fisicamente separados, mas espiritualmente sempre juntos, porque apesar de tudo, a nossa conexão tem amor e um filho, e isso não há força que vá contra - a união entre duas pessoas que decidiram ser pais juntos, quer fisicamente perto ou não! Não nos separamos como casal, mas foi preciso um tempo de estiagem para que consigamos prosperar, por nós mesmos, pela nossa família, pelos nossos familiares!

Se me perguntarem o que estou sentindo/pensando, eu não teria palavras sufcientes para conseguir explicar. É um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo que estou esperançosa, fiquei com medo do distanciamento. Mas entendo que toda subida tem a pretensão de uma vista da altura que se estiver disposto a subir. Então, como sempre, confio na Força Divina que sempre nos regeu e sempre nos regerá. É assim que consigo viver, confiando em Deus e só confiando!

Estamos começando um novo ciclo e fechando outros. É isso. Acostumada às adversidades, tento seguir plena, na medida do possível, mas confesso, mesmo com o turbilhão de mudanças que estão por vir, estou feliz!

Por Helen Waqas

05 de maio de 2021






segunda-feira, 5 de abril de 2021

Nossa Páscoa de 2021


Hoje tivemos mais uma Páscoa marcante no calendário das nossas vida. É a segunda Páscoa em discórdia em três anos. 

Eu poderia estender a minha última confissão sobre o texto que escreveria sobre meu irmão, sobre nossa relação, mas não estou com inspiração para isso, simplesmente por reduzir a nossa relação à ausência dela. É estranho. Pode ser compreensível mas eu não consigo aceitar o distanciamento de duas pessoas que viveram juntas por anos e que têm laços sanguíneos fraternos. É inconcebível na minha cabeça. Por estar sendo imatura pensando assim, mas isso também faz parte do meu crescimento, em todos os sentidos, como irmã, como mãe, como filha.

Bom, o dia começou estranho pois desde sexta-feira, santa, um feriado importantíssimo no meu calendário espiritual, a casa já respirava um ar pesado, e pra variar, por causa de grana. Após perder mais uma batalha contra a vida material, minha família, como sempre foi, não está sabendo lidar com as perdas materiais. E em plena sexta-feira santa discutia-se o futuro, girando em torno dele o famigerado dinheiro! E nessa guerra, eu sempre perdi, dando lugar ao calvário que é ter que aguentar as acusações... Já acostumada, mas isso não quer dizer que não doa e muito!

As crises se ansiedade voltam com força. Em crise desde sexta, ontem eu queria ter saído, respirado, tirado um tempo pra mim. Mas não o fiz. Noah chorando desde cedo porque o pai, sem paciência para conversar. Meu sangue vem nos olhos quando isso acontece. Saio de mim. Então, o sábado começou com brigas, discussão, gritos, choro e corações partidos, feridos... O meu está em pedaços. O máximo que consegui fazer por mim foi ligar para minha amiga Emanuelle (Mendes) e desabafar um pouco e tentar ouvir outras coisas fora da minha própria realidade. Na verdade, eu queria ter falado com algumas outras pessoas, mas tentando ser leve, não quero pesar para muita gente. Não tava mais com cabeça para ouvir muito nem falar. Passei o dia retraída. Como há muito tempo venho vivendo...

A verdade é que eu queria sumir, estar num lugar distante de mim mesma, das pessoas que me amam e que eu não consigo compreender ou que me compreendam. Eu queria estar longe com meus filhos. Às vezes baixa um sentimento Medeia, egoísta e covarde, mas a vontade é tê-los comigo, só eu e eles. 

Ouvi conselhos de várias pessoas, muitas vezes, tire um tempo pra você. Mas eu não consigo deixar o Noah aos cuidados da impaciência, agressividade e ignorância alheia. É como se, sendo a mãe, só eu tivesse o direito de errar com eles nesse sentido, por toda minha instabilidade e desequilíbrio emocional! Mas aqui em casa todo mundo está doente. E, infelizmente, isso afeta o desenvolvimento deles, substancialmente.

Sentei no meio fio e passei uma hora ao telefone. Consegui aliviar um pouco o peito.  O dia passou. 

Hoje, para café da manhã tivemos choros, gritos, lágrimas, criança assustada, filho mais velho vindo acalmar o coração, tentando apaziguar os ânimos exacerbados de um domingo de Páscoa na minha casa. Minha vida sendo minha vida...

Para você que sonhou com churrasco ou uma boa peixada em família, esqueça! O convite para churrasco e piscina foi negado e ficou apenas para o pequeno desanuviar. Mas no decorrer do dia nem ele pode desanuviar. A promessa da avó de levá-lo para confraternizar com os primos ficou só nas palavras porque depois de tanta rinha, acabei levando o Noah comigo, como sempre faço, porque não consigo o reconhecendo ou apoio que gostaria de receber desde que engravidei. É uma luta pra conseguir um "habbeas corpus" de vez quando, para estar com as pessoas que gosto ou até para estar um tempo comigo mesma. Faz tempo que não sei o que é isso... Segunda maternidade e casamento, e eu só consigo, neste instante, sentir-me completamente presa e sobrecarregada. 

Miguel foi lindo hoje. Tentou apaziguar. Tentou tirar a atenção do Noah para tudo o que tava acontecendo. Me deu força e apoio. Ele nunca se mete mas brigas, mas quando preciso tá sempre ali, ao meu lado, às vezes em silêncio, só para estar... Nos momentos mais difíceis ele tava aqui comigo. Isso é muito gratificante. Dá sentido a todo o meu amor e renúncia de mim mesma por eles! 

Como um sinal da minha extrema conexão com Deus, peguei o meu celular pra fugir da realidade amarga que tava sendo minha manhã de Páscoa e recebi uma notificação "Padre Fábio está ao vivo". Entrei no Insta. A missa tinha acabado de começar. Foi lindo! A cerimônia tava linda. Continuei chorando e orando. Pedindo perdão, agradecendo a Deus pelos meus filhos. Pedi força. O fardo não está fácil. Com essa pandemia todas as questões ficaram ainda mais delicadas e para mim, me fazem parecer estar vivendo uma realidade paralela, em outro mundo, onde não consigo comungar nada que me rodeia. Fica difícil querer levantar da cama, às vezes. Só rezei e me entreguei àquele momento...

O Amir entrou no quarto para me pedir desculpas. Tive uma crise de choro e não conseguia parar. Copiosamente eu soluçava, não queria ser abraçada por ele, eu não queria aquele pedido de perdão, eu não queria esta vida, eu não queria estar aqui. Eu só conseguia acusá-lo da covardia por usar minhas fraquezas para me desestabilizar ainda mais. Então eu tremia, o coração estava em disparada, as mãos suavam e de novo eu não queira estar aqui. Eu não queria estar morando num condomínio de luxo, numa casa confortável, mesmo que vazia, em todos os sentidos, eu não quero mais pagar por esse preço, eu só queria ter paz!

Terminei de assistir minha missa. Tomei um banho e decidi visitar minhas amigas, tentar esquentar o coração com quem estivesse longe de imaginar o meu sofrimento, e de certa forma de levasse pra longe da minha realidade hoje.

Desci, dei almoço para o Noah e conforme combinado, eu no meu romantismo barato, achei que minha mãe teria compaixão e ficaria com o Noah pra mim à tarde. Mas a minha realidade sempre foi bem distante das expectativas, daquilo que imagino que poderia ser. Lá vamos nós de discussão, mais uma vez, porque eu ia precisar do carro que nem é mais dela, mas é, e porque eu ia sair sem hora pra voltar. Depois de uma batalha de força e orgulho, resolvi levar o Noah comigo. Com coração doído porque ele não iria estar com os primos da idade dele, não iria aproveitar o dia na piscina, não iria desestressar, mas orgulhosa e pensando nele também, passamos a tarde na casa da Manu (Mendes). De lá passei pra ver meus pupilos, Leda e Rodolfo, e voltei um pouco mais leve. 

Hoje queria ter sorriso pra lembrar deste dia. Queria que o dia tivesse sido leve. Queria ter uma enviado mensagens bonitas de Feliz Páscoa, mas como dizem que só damos o que temos dentro de nós para dar, eu não consigo dar o meu melhor pra ninguém, eu não estava leve. E para não ser peso para ninguém, decidi continuar no meu estado ostra até conseguir vir aqui desabafar. 

E sobre meu irmão, até hoje voltou de viagem, depois de mais de um meio fora do Brasil e nenhuma mensagem de Feliz Páscoa fomos capazes de trocar. Mas quem sabe ele tivesse vindo aqui hoje e o banquete tivesse sido servido. Acho que a mágoa dele tem a ver com as desavenças entre mim e minha mãe. A expectativa é que sempre alguém intervenha com mais amor e carinho, mas como falei antes, ela é sempre bem diferente da realidade.

E para eu ser mais eu no meu post, vou de músicas que marcaram meus últimos três dias...

Por Helen Waqas

Em 04 de abril de 2021

















quinta-feira, 25 de março de 2021

Do que ficou da pandemia de 2020/21



Bom, meninos, meu último post foi em setembro de 2020. Nessa época eu ainda não havia contraído o vírus que assolou o mundo em 2020. Muitas pessoas morreram no planeta inteiro. No final de outubro, depois de passar muito mal, ter febre alta, tosse, falta de ar, dor de graganta e desmaios, fui diagnostica com a Covid. Ao procurar o posto de saúde, pela segunda vez, depois do diagnóstico, tive que ser internada e fiquei hospitalizada no oxigênio. Tive uma crise de ansiedade no posto de saúde, antes da internação, desmaiei, tive taquicardia, achei que ia morrer... Foi horrível! Amir e Noah estavam comigo. Noah até hoje não esquece quando desmaiei e segundo ele, "quando eu morri". Não esqueceu também quando entrei para a internação e que ele não pode se aproximar de mim, só me viu saindo da ambulância e entrando no hospital, quando acenei pra ele chorando, e entrei devastada.

Eu estava arrasanda, com muito medo de morrer e deixar uma criança tão pequena órfã de mãe. Parece exagero, mas não é. Nos noticiários, documentários, tudo mostrava que muita gente entrava nas internações dos hospitais e nunca mais tinha contato com a família até a morte. Esse era o meu grande medo. Graças a Deus eu consegui melhorar e depois de cinco dias pude ver novamente os grandes amores da minha vida!

Essa pandemia foi muito reveladora pra mim, em vários aspectos. Eu que já era muito grata por estar viva, agora estou muito mais sensível do que antes, muito mais, nem sei dizer quanto. Entendi que tenho vários sintomas de ansiedade, que já existiam bem antes da pandemia, mas que ficaram mais evidentes depois dela. Descobri também o meu gatilho, ou os meus gatilhos, que desencadeiam as crises. 

Depois que voltei do hospital, surtei. A iminência da morte me fez querer mudar tudo e me livrar do que mais me faz sofrer, que é a vivência conflituosa com minha própria mãe. Sendo assim, eu dei a louca, pedi dinheiro emprestado, organizei tudo e resolvi me mudar para o nordeste, passar um tempo mínimo de seis meses na Paraíba. Me inscrevi em alguns concursos por lá, procurei por aluguel mais barato mas num lugar bacana. Fomos de mala e cuia, eu e os meninos, Amir, cachorros e gatos, para Conde, na Paraíba. Aluguei a casa por seis meses, um pouco afastada da capital, porque queria sossego, viver em paz. Não levei móveis, fomos a família com as roupas do corpo e poucas malas. Não hesitei, dia 17 de novembro de 2020, desembarcávamos na Paraíba. Eu estava apreensiva, mas estava feliz! O Amir não iria ficar com a gente até fevereiro de 2021, somente eu e os meninos, Amir iria para lá depois da viagem dele ao Paquistão. Miguel iria viajar no início de dezembro para passar férias com a família no Rio, depois de mais de um ano sem vê-los, por causa da pandemia. Ou seja, eu ia ficar sozinha com Noah até minha mãe chegar no dia 14 de dezembro. No entanto, as coisas em Brasília não iam bem. Há mais de um ano e meio morando de favor na casa da minha tia, aliás um enorme favor que recebemos de bom grado, estávamos agoniados para mudar logo de lá, para nossa própria casa. Só que entre mil discussões, a venda da casa estava sempre em questão. Isso foi também um dos motivos de eu tentar me desvincular dessa dependência eterna dela e das coisas dela. A venda da casa era um dos meus desapontamentos com minha mãe porque depois da tentativa de ir embora do Brasil, eu tinha resolvido tentar me aquientar por aqui, tentar refazer minha vida profissional e ter um lugar fixo para morar com os meninos até eu ficar velhinha. Mas esse é um sonho só meu, infelizmente. Insisti bastante com minha mãe, ainda mais depois da pandemia, porque eu sempre afirmei que ela deveria morar com a gente por causa da idade avançada. Mas como eu já disse, esse é um desejo só meu! Também por isso a resolução de mudar tudo e fazer o que eu queria, que era morar num lugar longe da correria da cidade grande, um lugar em que os meninos pudessem ter qualidade de vida, mesmo que vivendo com mais simplicidade. No entanto, meus planos foram todos  frustrados quando recebi um telefonema do Amir dizendo que tava impossível ficar em casa. Resolveram fazer uma reforma na casa da minha tia na semana em que estávamos indo para a Paraíba. Foram dias bem difíceis até a volta para Brasília! Eu queria ficar livre dos problemas, mas eles foram comigo na mala. Eu que ja estava sentindo alguns sintomas de ansiedade, antes mesmo do telefonema do Amir, morando sozinha com os meninos, longe de tudo e todos, sem carro, sem muita grana, sem o Miguel em casa naquele momento, pois ele já havia ido para o Rio, surtei de novo! Só que agora estava longe de todos e sozinha com o Noah. Tive tontura, falta de ar, chorei muito ao telefone com minha tia, com o Amir e minha mãe. Não estava conseguindo ficar sozinha. Fiquei temendo pela vida do Noah, caso eu passasse muito mal, sozinha lá com ele. Pedi para minha mãe adiantar a passagem mas ela não queria porque queria acompanhar de perto a obra da casa, que já estava no final. Acabamos brigando de novo e ela disse que nem queria ir. Mudei a passagem dela para dia 23 de dezembro. Na segunda-feira, dia 07 de dezembro, eu estava muito mal com tontura, falta de ar e muito chorosa. O Amir me ligou e resolvemos que ele iria me buscar de carro naquela semana. Gastamos muito. Aliás, dessa tentativa toda, eu só me arrependo disso. Os gastos foram muitos pra quem não estava esbanjando dinheiro em plena pandemia. Imagine, mudar de cidade com dois meninos, dois cachorros e três gatas. Eu tinha que levar todo mundo, tava querendo começar uma vida nova e precisava de tudo que tenho na vida perto de mim! Só não pude levar meus livros. Ainda bem porque aí seriam mais gastos para levar e trazê-los, por causa do peso.

O meu surto não veio somente por estar sozinha na Paraíba com o Noah, e com sintomas de ansiedade, mas também porque o noticiário informava de uma nova onda da Covid no Brasil, ainda mais forte, e os concursos para os quais tinha me increvido na Paraíba tinham suas provas suspensas. Fiquei apavorada. Então, eu não me via apta a permanecer longe da família e dos amigos sem a perspectiva uma melhora real na vida. Voltamos naquela semana. A viagem foi bem sofrida, mais de dois mil queilômetros de carro, com menino e bichos dentro do carro. Não foi moleza. Mas a experiência foi bem válida! Eu percebi que não consigo viver sozinha, mesmo que eu queria. 

A parte boa disso tudo foi que pude ver minha madrinha, Maria das Graças, que está morando em olinda e eu não via há 22 anos. Foi uma experiência linda e dolorosa ao mesmo tempo. Eu pude reencontrá-la, mas para mim que sou completamente "do tato", não pude abraçá-la. Aquilo me doeu muito. Toda hora tinha o ímpeto do abraço, mas por precaução não pudemos nos abraçar. Foi um reencontro muito emocionante. Valeu todo o gasto. E às vezes penso que talves esse tenha sido o propósito de toda aquela viagem, pois por meio da minha visita, ela pode se reconectar, indiretamente, com minha mãe, amiga de anos que ela também não vê há muito tempo. Foi gratificante pra mim!

E por quê resolvi escrever no blog depois de tanto tempo? Bom, eu sempre prometo que vou tentar escrever todo dia, mas não consigo. Às vezes o dia é corrido, às vezes não tenho paciência mesmo pra sentar na frente do computador e desabafar. Acho que sem fazer a terapia como deveria, isso aqui é uma válvula de escape.

Ontem, no entanto, tive mais uma crise de ansiedade, depois de muito tempo que não ocorria, desde que voltei à Brasília. Senti falta de ar pela manhã e passei o dia inteiro chorando por tudo e qualquer coisa. Tive insônia, fui dormir às três da manhã, tive vontade de morrer... Nesses dias, não consigo ver perspectiva de melhora. Tudo vai mal e seu sei exatamente o que ocasiona esses pensamentos. Tô sofrendo muito com a pandemia, financeira e mentalmente. Penso em tanta coisa, em tanta gente, em tudo o que que poderia fazer pelos outros e não faço, porque não posso, porque não consigo, nas coisas que não dão certo pra mim e me fazem parecer estar num buraco sem fundo, numa escuridão sem quaquer fresta de luz há mais de seis anos. Mas sigo com fé. A vontade morrer vem da ilusão de que deixando essa vida aqui, eu vou me livrar de todo o meu sofrimento. Mera ilusão. 

Ontem à noite enquanto tomava banho, chorei muito, compulsivamente, pedindo a Deus pra me livrar do fardo que não tô conseguindo carregar. Apesar de ser muito grata à minha mãe pela minha vida e todas as regalias e oportunidades que tive até hoje por causa dela, exclusivamente por causa dela, por causa de sua força e determinação, me vejo muito diferente da pessoa que ela é hoje, e isso é o que me adoece por dentro e por fora. Apesar de que saber de todo o meu potencial intelectual, entre outros tantos atributos que tenho, que todos tm, eu sinto não "acontecer" por não ser merecedora disso, simplesmente porque eu não consigo ser tão boa com minha mãe como eu deveria! Já ouvi muitos conselhos que a nossa relação só mudaria se eu mudasse porque ela nunca mudaria. Confesso que já fiz várias tentativas, mas não consigo. E isso é o que mais me aflinge. E eu já desisti faz tempo de mudar qualquer coisa na nossa relação.  Eu joguei a toalha, desisti de entender, de ceder, de ter compaixão. Então, carrego uma culpa imensa por não conseguir ter dado certo a relação que era pra ser uma das mais bonitas entre dois seres, a de mãe e filhos.

Tento fazer diferente com os meninos, mas há um comportamento reflexivo muito difícil de controlar e mudar, apesar de todo esforço. Mas faço a minha parte. Tento dar a eles o que tive pouco, ou não tive, amor, carinho, acolhimento e compreensão. Não quero me fazer de vítima, mas eu fui negligenciada pela vida em muitos aspectos sentimentais, dentro daquilo que considero ser o mais importante, contrariamente ao que um mundo inteiro procura que é a realização material/financeira na vida. Eu não tive amor genuíno de pai, de avós, e gostaria de poder ter tido mais tempo ao lado da minha mãe, para que hoje pudéssemos ser amigas, e não só sobreviventes num mesmo espaço. Não é culpa dela, isso eu já compreendi. Como toda mãe, ela fez o que achava que era o certo, e possível, para que crescessemos saudáveis e completos. Toda mãe faz o que pode e aquilo que acredita ser o melhor para os filhos, indubitavelmente. Mas também não posso anular meus sentimentos e não dizer que dói, que não fez falta, que isso não teve incorrência na vida adulta.

E por aqui seguimos... tentando permancer vivos, com saúde, na esperança de dias melhores! 

A propósito, meu irmão chegou da Inglaterra há dois dias. Mais de um ano e meio sem nos vermos. Nos falamos, por mensagem, quando ele chegou a Brasília mas ainda não nos vimos. Me perguntaram se ele já havia chegado e se eu já havia visto ele. Eu disse que ainda não. Então a pergunta foi: "Eles estão em quarentena por causa da viagem?", eu respondi: "Não sei. Ele não se comunica comigo com frequência, só com minha mãe." 

Esse é um outro ponto relevante da minha vida. Mas isso fica para outro post porque o desabafo teria outro textão! 😅

E para finalizar, vamos de música... 💗💛💚💙💜

Por Helen Waqas

Em 25 de março de 2021