domingo, 28 de outubro de 2018

Nossos próximos quatro anos ou oito anos

Terminávamos nosso lanche capitalista no Burger King. Eu e os meninos, Miguel e Noah, ouvíamos do subsolo os gritos nas ruas, o burburinho daquilo que já sabíamos: Bolsonaro era o novo presidente do Brasil!!
Subimos as escadas, os carros passavam, buzinando, as pessoas estavam frenéticas nas ruas, sorrisos, gritos... Os fogos começaram. Parecia final de Copa do Mundo. O Noah olhava para o céu extasiado, sem entender nadinha do que estava acontecendo. Miguel solta: "Nossa, parece reveillon!". O meu corpo estava todo arrepiado, ficou assim até os fogos terminarem. Era uma sensação muito estranha a que eu estava sentido. Passou um filme na minha cabeça, de repente comecei a ver posts na minha mente, o impeachment de Dilma, as eleições de 2014, meu desejo de sair do país, meus filhos, o futuro inimaginável; pensei nas pessoas nos hospitais, nas pessoas passando fome, na miséria que tinha se instalado no país, na violência, na onda "Trumpiana" que se instaurava mundo afora...  Meus olhos se encheram de lágrimas. Enquanto olhávamos os fogos eu pensava: "A humanidade está no seu limite do mal. Este filme está em reprise. Libertaram o Barrabás. E enquanto os fogos rolavam, colorindo o céu, ao fundo tínhamos os raios, sim, raios de trovoadas que estavam por vir, a natureza dando ar de sua graça, mostrando a força da vida, e quem realmente comandava o Universo. Era a chuva ameaçando cair, era o céu estremecido, eram os ares se contorcendo para a nova realidade? Me vendo extremamente abalada o Miguel solta mais uma: "Deus está nos mostrando que fizemos a escolha errada. Ele está mostrando no céu que o Brasil fez a escolha errada."
Meu filho de quase 12 anos de idade tinha mais discernimento do que muita gente que vi contemplar o mal o nos últimos dias. "Miguel, eu estou com muita vontade de chorar. Mas não é porque o Bolsonaro ganhou, é porque ele representa o mal que a sociedade é. Ele pensa como todos os outros. E as pessoas estão muito más. Você imagina extinguir os negros, nordestinos ou homossexuais do planeta simplesmente porque você não gosta da existência deles. Estou com vontade chorar pela humanidade em que vivemos hoje. Os petistas hoje devem estar sentindo a mesma tristeza que senti há 4 anos." 

Mudei de assunto. Não queria chorar. Não queria ser pessimista nesta hora. Mas toda a minha fé passou pela minha cabeça nesse momento. Pensei em todos os evangelhos. Pensei em Cristo. Pensei na perseguição e na banalização do bem naquela época e agora, 2000 anos depois. Era tudo muito surreal. Lembrei do meu sonho da última noite. Não queria ir agora. Não estou preparada. Mas nessas horas me perco nas minhas contradições materiais e espirituais. Eu queria estar livre de tudo isso sem querer me desapegar dos meus amores. Complicado.

Chegando em casa, com a cara abatida, semblante revoltado, pouca paciência para conversa, afago, atenção, precisei vir para o teclado. Queria colocar tudo para fora! Quase vomitando, continuei escrevendo enquanto Magno Malta e Bolsonaro, em rede nacional, oravam ao Senhor, falando de sabedoria etc, às 19h52. "Um cristão verdadeiro, um patriota..."; "Deus acima de todos!" Pedi para o Miguel mudar o canal da tv, não estava conseguindo me concentrar nos meus pensamentos.
Parece que já vi esse filme antes, homens e mulheres falando em "nome do Senhor" "pelo bem da nação" e as ações beirando a loucura, num tom de discórdia, de sectarismo, de dissociação da realidade e da teoria.

A nova era chegou. Eles venceram. A maioria escolheu "aquele cara", simbologia do que já vi de mais perverso até aqui, até onde me entendo por gente, desde quando entendo qualquer coisa de política.

Vamos encarar os fatos, brasileiros somos, por aqui ainda vivemos. Sigamos na fé, na esperança nos céus porque nos homens, está bem difícil crer!

Que meus filhos estejam abençoados nos próximos quatro anos, nativos deste país!!

Enquanto eu queria chorar, as pessoas comemoravam nos bares da cidade por onde passávamos, com sorrisos e gritos de vitória. E o que marcou, foi Netinho, com Mila, que rolava no som do Primeiro Bar e Cozinha, no bairro Sudoeste. Mas vou ficar com Titãs que era o que eu ouvia antes do lanche, antes de tudo isso aqui.

Tanto faz qual é a cor da sua blusa
Tanto faz a roupa que você usa
Faça calor ou faça frio
É sempre carnaval no Brasil