segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Meu Lunny


19 de janeiro de 2009. Hoje eu deveria estar escrevendo para o meu filho, mas estou aqui diante dessa tela de computador para expressar toda a minha dor. Num rompante, à la Maysa, ponho-me a digitar e a chorar. Esta noite me despedi do meu grande camarada. Hoje não queria ter que viver esta emoção. Ele foi meu grande companheiro nesses últimos oito anos e meio. Esteve presente sempre nos momentos mais importantes, na despedida, na recepção, no aeroporto, na cidade maravilhosa, no reencontro, na separação, no nascimento... Era a ligação mais presente que tinha do meu pai, pois foi seu último presente para mim, um presente que eu preservava com muito carinho e devoção. E desse detalhe, poucos sabiam, que ele era tão valioso para mim quanto uma gigantesca pedra de diamante para os capitalistas. Quando engravidei, insistentemente queriam que eu o desse para uma outra família, no entanto, ele era o companheirinho do meu Miguel, apesar do ciúme de ambos. Mas longe dos olhos de muita gente, ele significava vários detalhes da minha vida, pois esteve comigo em momentos muito marcantes... Nas horas de alegria, nos dias mais difíceis, longe dos meus, da minha família, era quem estava comigo na cidade que engole gente e nas noites de chuva. Era ele a minha razão de voltar pra casa todos os dias. Era quem esquentava meus pés nas noites solitárias de frio. Ele me ouviu chorar, brigar, cantar... Ele era quem ficava comigo na madrugada, enquanto eu lia, escrevia... Os fins de tarde já não serão os mesmos. Chegou pra suprir a dor de outra perda. Era a alegria da minha casa. Teve um papel fundamental na vida sentimental do meu filho, que ainda se desenvolve. E ninguém pode imaginar o tamanho dessa dor. Hoje eu não queria ser triste. A dor da perda é o que mais me enfraquece nesses dias claros. E com ele se foram anos de júbilo, de sonhos, de infância, de juventude. Com a sua partida ficam mais evidentes as lembranças do pai, do irmão, do choro da mãe, do casamento desfeito, da dor da solidão, da morte, do medo... O modo que me refiro, esta noite, a um mero cachorro, pode parecer lunático, banal, mas é sentimento puro. Meu Lunny foi muito mais do que isso, muito mais que qualquer palavra que eu tente exprimir. Numa caixa de bonecas, dormindo como um bichinho de pelúcia... Este último momento vai ficar no meu coração, até que este pare de bater, como o dele parou nesta noite de domingo... A memória mais viva de fidelidade, apreço e amor.

Por Helen de Sousa_19jan09