domingo, 26 de dezembro de 2021

Das crises de estresse

São 02h27 da madrugada. Resolvi começar a escrever para ver se me acalmo. Desde meados de abril, maio, não as tinhas, as tais das crises de estresse.

Iniciado um período avaliativo com profissional de saúde especializado em ajudar quem sofre de crises de estresse, ou seja, os psicólogos, hj me peguei numa angústia braba com direito a falta de ar, descontrole emocional etc. De umas que não tinha desde dezembro do ano passado.

Há uma semana mais ou menos venho sofrendo com insônia e crises de choro contínuas, além de umas dormências nas mãos e nos braços, que parece ser uma Síndrome do Túnel do Carpo, desencadeada pela gravidez, e um inchaço nos pés que volta e meia se faz notar, mesmo ainda estando na metade da gestação, com 22 semanas. Hoje no final da tarde, sozinha em casa, me peguei chorando copiosamente, com falta de ar, um nervosismo incontrolável. Comecei um processo de respiração profunda para tentar centrar as ideias, os sentimentos se acalmarem e tentar sair daquele estado, pois os meninos estavam chegando da escola. Consegui parar. Mas agora, ao acordar às 02 da madrugada, não consegui parar de chorar.

Há uma semana tive uma discussão com minha mãe porque ela voltou com a ideia de vender a casa dela, observe A CASA DELA,  mas que de certa forma faria parte dos meus planos de curto prazo, tendo em vista a minha volta da Paraíba, depois de uma crise aguda de estresse por lá e me vendo sozinha com o Noah. Assim, tentou-se uma trégua por um tempo, até pela ausência do Amir, e da chegada do Aaron, daqui a uns meses. Mas esse "curto prazo" durou muito pouco ou muito menos do que eu imaginava, pois a trégua acabou assim que o Amir saiu da prisão, na imigração do Texas, EUA. Meu planejamento era levar uma gravidez tranquila, ter o Aaron num ambiente mais saudável, sem muitas preocupações (já com questões suficientes para pensar, desde a saída do Amir do país), inclusive já havia até arrumado o quarto dele e do Noah esperando a chegada do pequeno, mas como sempre foi, minha vida não é esse mar de rosas que aparenta ser. Lá vou eu para mais um lance decisivo em plenos 5 meses de gravidez!

Saber que vou ter que encarar a vida adulta, sozinha e essa instabilidade psicológica, mais uma vez, despertaram meus gatilhos e hoje eu só consegui procurar imóveis pra alugar, chorar, acordar no meio da madrugada, mandar mensagem para o marido que se encontra em outro país, e vir até aqui tentando um alento para a mente. Li em algum lugar que escrever tudo que vem à mente, acalma. Lá não nada escrito sobre publicar, mas como gosto uma purpurina e holofote...

Nesses dias de sofreguidão, cheguei à conclusão que me apavora a ideia de ter que viver sozinha, tendo todas as responsabilidades de uma casa e filhos nas minhas costas, mesmo com qualquer ajuda financeira ou com todo o financiamento sendo mesmo custeado por alguém. A questão não é o dinheiro mas o não ter com quem dividir responsabilidades, com quem compartilhar, na prática, a vida real. Acredito que isso me assusta. Quando morei sozinha no Rio, mesmo sendo "bancada por mamãe" até conseguir terminar meu curso, me vi em depressão quando me peguei fazendo compras sozinha, sem ter com quem compartilhar a vida nos finais de semana, sem ter com quem desabafar ou alguém realmente responsável que pudesse me dar um abraço sincero, consolador e compreensivo;  e se não tivesse engravidado do Miguel, teria voltado para Brasília pouco tempo depois, pois já fazia parte dos meus planos estar por aqui por causa do meu estado depressivo que só piorava vivendo longe da família.

Hoje eu tenho certeza que me ver diante da possibilidade de ter que fazer tudo sozinha, de novo, como foi na Paraíba no final do ano passado, só que agora com duas crianças pequenas para engrossar o caldo, não será nada fácil!

Eu não tenho medo de crescer, de assumir responsabilidades, também já cheguei a essa conclusão. O que me assusta é me ver sozinha para tudo. Sei que existem milhões de pessoas que conseguem, que sobrevivem, mas cada um tem a sua história e cada um reage de um jeito aos sopapos que a vida nos dá. Eu tenho plena consciência que não nasci para viver sozinha, sem um(a) companheiro(a), sem cumplicidade, sem carinho e afeto sinceros.

Tudo tem um preço. E, nestes anos todos que vivi debaixo do teto da minha mãe, mesmo ensaiando por diversas vezes o desvencilhamento real, o corte real do cordão umbilical, desde o meu nascimento, sempre pensei no bem estar que estaria proporcionando ao Miguel, e depois ao Noah, se estivéssemos todos juntos sob o mesmo teto, além é claro da comodidade de morar na casa mãe. Mas como eu disse, tudo tem um preço. E a partir de agora vou ter que pagar um preço bem salgado para conseguir continuar proporcionando essa vida,  sem muitas necessidades, aos meninos. Já decidido com meu marido presente/ausente, que a ida dele para tão longe em buscas de seus ideais vai ter que render algum fruto para quem ficou aqui, no caso para os filhos dele. Decidimos que iremos para um lugar alugado, eu e os meninos, com a ajuda dele até que eu possa voltar a trabalhar presencialmente, depois do nascimento do Aaron. E eu, mais uma vez, como diria um amigo, estarei na dependência de alguém. Mas não tem jeito, por mais que eu lute contra, a minha vida sempre foi assim, e é um ciclo que parece não ter fim. Sempre que tento seguir em frente, alguma coisa me puxa de volta e estou sempre decidindo meus passos ligada a alguém ou alguma vida que me prenda e me dificulte viver a minha vida própria.

Outro dia tava pensando, não é possível que passemos por todas as fases da vida exatamente como os outros ou, em alguns casos como o meu, que tenhamos um destino planejadinho como o de muitos. Muitas pessoas vão estudar, se formar, casar, ter filhos, comprar casa própria, ter o carro do ano etc. Outras não nasceram para casar ou ter uma casa própria, ou ainda, não terão filhos. Não existe uma fórmula pronta de felicidade. Cada felicidade é uma, e as felicidades são únicas de cada um.

Como dizem os especialistas, saber reconhecer-se na vida, os próprios erros e acertos, tentar corrigir em tempo tudo aquilo que identificamos como inassertivo, na tentativa do acerto, é o mais importante. Os percalços sempre existirão. Saber levantar-se depois da queda é que o grande lance da vida.

Outro dia perguntei a uma amiga, cordialmente, se ela estava bem. Ela me respondeu que era sempre muito complicado responder a essa pergunta de forma sincera e sucinta. Eu prefiro deixar a diplomacia e positividade para "os acentos" do dia a dia. Para dias como o de hoje, eu deixo as letras e toda a complexidade de uma mente humana expressa numa página de internet, que não sabemos até que dia irá existir, assim como nossa vida passageira por aqui.

A única coisa que tenho certeza hoje é não quero, e nem consigo, deixar nenhuma vida para trás. Não consigo me desvincular com facilidade de quem acabei ligada nesta vida pela responsabilidade apenas de ser amor, colo, afeto para essa pessoa ou animal (confesso que não consigo deixar meus cachorros e gatas para trás também). E todos vão aonde eu for desde então!

E como eu pedi ao Amir, vou deixar o que de mais importante penso sobre a vida, para aqueles que optaram por extender a sua vida própria para além, por meio dos filhos: tenha sempre a vida dos seus filhos como primeiro plano na sua vida. Não esqueça que dinheiro não compra tudo, em qualquer idade que seja, desde a infância à vida adulta. O que fica gravado na mente e na alma são todas vivências da afetividade, do carinho e da atenção que recebemos nesta vida, principalmente dos pais. Presença, de fato, vale muito mais do que mil bens deixados de herança ou acúmulo de riquezas materiais. 

Aos meus queridos meninos, todo amor do mundo, daquela que literalmente vive, e viveu, exclusivamente para vocês!


Por Helen Waqas
Em 10 de setembro de 2021