quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Porque "Cartas para Eles"

Quando eu criei este site, de início, era somente para postar alguns pensamentos poéticos, devaneios, extravasar as palavras que por muitas vezes não queriam  calar dentro de mim.

Com o tempo tentei me adaptar à moda "blogueira" da época, mas não tinha visualizações suficientes para sucesso na web. Desanimei de continuar escrevendo "para ninguém".

Passado isso, resolvi apenas continuar escrevendo para não silenciar os meus sentimentos, continuar extravazando e deixar qualquer legado, por escrito, eternizado para os meus filhos. Quando eu me vi apaixonada pelas letras, pelas histórias, pelas personalidades históricas da literatura e da arte brasileira, e mundial, sempre pensei que gostaria de saber cada detalhe, o máximo possível, da trajetória da vida minha em relação à vida da minha mãe. Queria saber sobre pensamentos, sentimentos, momentos especiais e diferentes na vida dela, tudo que nos tenha trazido até aqui, ao que nós somos, e nos tornamos. Nós nunca tivemos um relacionamento de cumplicidade, de amizade, de compreensão mútua entre mãe e filha, então, isso era muito importante para mim, saber os pormenores dessa contrução relacional. 

Como as coisas nunca foram tão simples e descomplicadas na minha mente, quando me tornei mãe eu disse que ia fazer tudo diferente! A teoria é linda, mas sabemos que na prática não é bem assim... E escrever para os meus filhos estava na lista dessas coisas "diferentes" que eu queria fazer. 

Sempre tive o sonho de ser mãe. Sempre foi a minha maior ambição. Eu queria ser mãe de três filhos. Achava que dois irmãos era muito pouco numa casa, numa família. Talvez por sermos só eu e meu irmão, e hoje não sermos tão próximos e cúmplices como eu gostaria, e apesar de ter sido criada até os 16 anos com minha prima que se tornou minha irmã, sempre acreditei que três era um número bom para o convívio entre parceiros de caminhada. Hoje tenho certeza! 

O 3, espiritualmente falando, tem uma simbologia muito interessante pois significa a união do corpo, do espírito e da mente. No cristianismo, significa a trindade - Pai, Filho e Espírito Santo.  Para os maçons ele simboliza a luz, e representa a vontade, o amor e a inteligência (sabedoria), qualidades cultivadas no aprendizado e crescimento moral e espiritual. Em geral, ele também representa a comunição. Na teologia e em outras ciências é considerado o número perfeito. Para mim, o 3 significa o início da eternidade. Duas figuras do número três juntas formam o 8, meu algarismo predileto. Ele representa o início e conclusão de qualquer criação, além da justiça e o equilíbrio de tudo. O algarismo 8  simboliza a eternidade. E o sentido de eternidade é muito amplo, muito vasto, perpétuo. Portanto, o 3 sempre traz essa expectativa de renovação e continuidade, da vida, dos sentimentos, dos sonhos, da humanidade...

Mas voltando ao sonho de ser mãe, três filhos ou filhas para mim seria perfeito. Primeiro veio o Miguel, impávido, sereno, num ineditismo que só poderia ser dele, me ensinando a ser mãe e me reconhecer como mulher neste mundo. Foi uma transição tranquila, cheia de novidades, descobertas e conquistas importantes. Me conectei com Deus de novo e mais ainda. Entendi o sentido de tudo. Eu agora sabia o que era o amor genuíno! Depois tivemos a nossa pequena Aisha que passou por nossas vidas num momento conturbado, numa terra infértil, num momento de desolação e angústia. Por cinco meses ela foi a única alegria e esperança de dias melhores. O medo da maternidade feminina até passou naquele momento, durante a sua estada em mim. Mas o destino dela não tinha rosto, não tinha o toque, somente o coração. E foi isso que ficou da minha pequena para mim. Então, somente um mês após a perda da nossa pequena estrela, ele veio, impiedoso com sua doce bravura, cheio de saúde e alegria, com um sorriso largo que resplandecia os quatro quantos da casa - o Noah estava do volta à Terra! O caçulinha, cheio de força, temperamental ao extremo, capaz de estremecer o mundo com sua personalidade meiga e carinhosa, e o seu jeito turrão, mesmo em tenta infância! E quando eu achei que pararia por ali, pois a idade já não era tão apropriada para iniciar a maternidade, eis que está por vir o meu verdadeiro caçula! Somente na 16a semana que foi possível saber que o pequeno faria parte desse time de gigantes na minha vida. Queria fazer uma homenagem a São Francisco de Assis, mas não sei se será possível pois a multiplicidade religiosa na nossa família ainda não permite uma decisão consensual só minha! (risos) Mas pretendo seguir a linha Renato Russo aqui de casa, e possívelmente "meu filho vai ter nome de santo..."

De toda forma, eu quero que vocês saibam, meninos, e que o mundo saiba, que vocês são a minha vida, são a minha conexão mais íntima com Deus. Vocês são o que de melhor em mim vai ficar na Terra, vai se perpetuar e durar a eternidade. Vocês são meu legado para adoçar um mundo doente, fragilizado pelo egoísmo, orgulho e ambição materialista. Numa era onde ter um filho é quase sempre impensável, ter três, então, é um absurdo na mente da maioria da sociedade capitalista, descrente e ignorante de valores reais da alma: vocês são vida, esperança de um mundo melhor, mais justo, mais respeitoso com todos os seres, principalmente os mais fragilizados pela ação do mal. Vocês devem ser aqueles que farão a diferença, darão o tratamento digno e fraterno às mulheres, aos idosos, às crianças, aos animais e à natureza, e a todos àqueles que são excluídos por apenas existirem, pois é assim que estou tentando criá-los para enfrentar esse mundão afora!

São 04h15 da manhã. Estou com insônia desde às 02h, pensando na vida, em tudo que passei até chegar aqui. Tentando achar sentido nas ausências que a vida me impôs, nos impôs, vem nos impondo... Tentando aceitar as escolhas alheias em acreditar que o dinheiro resolve tudo e é mais precioso que o afeto, que o carinho, que a presença de uma amor verdadeiro. Tentando não pirar com o sofrimento, diário e contínuo, do Noah pelo afastamento do pai, aos 4 anos de idade. Tentando não reviver os meus próprios traumas por não ter tido meu pai ao meu lado, desde os 1 ano de idade e alguns meses. Orando para Deus para que essa onda passe logo e que as sequelas não sejam tão desastrosas como prevejo. Tentando controlar minha revolta com a vida e suas imposições. Sonhando com um amanhã mais suave e próspero, repleto de sorrisos e felicidades entre nós. E sempre, sempre agradecendo a Deus por ter vocês aqui comigo, minha força, minha base.

Acabei de assistir ao jogo do Brasil x Rússia, vôlei masculino, que perdeu, mas que não deixa morrer em mim a vontade de vocês tornarem-se grandes homens como eles, quer sejam famosos, quer não! Eu só quero de vocês aquela força, humildade, alegria e vontade de ser alguém melhor e se superar a cada dia. Feito isso, eu terei cumprido minha missão da melhor forma possível nesta existência!

Aos meus meninos, muito amor e fé em suas vidas!!

Por Helen Waqas
Em 05 de agosto de 2021