sábado, 2 de julho de 2011

Da perda de cada um

Hoje, ouvindo o noticiário, sobre o falecimento do ex-presidente brasileiro, Itamar Franco, resolvi falar sobre as dores das perdas de pessoas de nossas vidas.

Sempre fui uma menina muito tímida na minha infância e nunca soube expressar meus sentimentos de forma carinhosa. Tinha dez anos de idade e lembro-me, como se fosse hoje a primeira vez que meu padrasto ameaçou sair de casa. A cena é nítida: ele na garagem, com as malas prontas, ao lado de seus pés, minha mãe observando tudo de perto, com os olhos marejados. Foi então que eu agarrei as pernas dele, como se nunca mais pudesse soltar e, chorando, pedi, somente uma vez, com todo amor que uma criança daquela idade poderia ter, para que ele não fosse embora! Num pranto maior que o meu, ele me pegou no colo, me abraçou e num abraço coletivo, entre eu, minha mãe e meu padrasto, selamos a união que nos proporcionou ficarmos todos juntos (eu, minha mãe, meu padrasto, meu irmão e minha prima) por mais oito anos. Depois disso veio a segunda despedida de meu padrasto, a saída definitiva de casa. Assim, após quatro anos de convívio, separados, a última vez que o vi foi quando ele veio a falecer.

Com os meus trinta e dois anos, ainda não aprendi direito a lidar com a dor de uma perda. Geralmente, eu tento me defender do sofrimento e acabo causando dor às pessoas ao meu redor. Já perdi um grande amor. A morte já levou algumas pessoas a quem muito amei. E sempre foi muito difícil passar por isso.

Cada pessoa tem seu jeito de lidar com suas perdas. Uns tornam-se reclusos em suas próprias casas e deixam com que a tristeza tome conta de sua vida, outros preferem espairecer saindo, viajando, bebendo com os amigos, conhecendo outras pessoas. Alguns agarram oportunidades ímpares, depois de ter perdido alguém. Outras pessoas preferem a incomunicabilidade e o distanciamento. Tem gente que prefere sentir-se querido ao lado da família. Há ainda os que passam a se dedicar mais aos filhos, aos afazeres domésticos, ao trabalho, à religião. E pessoas que caem sobre uma cama, por dias e dias, até conseguirem levantar-se, abrir as janelas, deixar o sol entrar e resolvem encarar a vida real.

O fato é que dor é dor. E a dor de uma perda é incomparável para qualquer um, pois cada história tem sua intensidade, é carregada de lembranças, sorrisos, gestos de carinho... Cada perda é insubstituível. Mas o amanhã é a esperança de um dia melhor, de novos momentos felizes, sem, necessariamente, que se perca todo o amor que tivemos por uma vida perdida.




Por Helen de Sousa
02 de julho de 2011