quinta-feira, 25 de março de 2021

Do que ficou da pandemia de 2020/21



Bom, meninos, meu último post foi em setembro de 2020. Nessa época eu ainda não havia contraído o vírus que assolou o mundo em 2020. Muitas pessoas morreram no planeta inteiro. No final de outubro, depois de passar muito mal, ter febre alta, tosse, falta de ar, dor de graganta e desmaios, fui diagnostica com a Covid. Ao procurar o posto de saúde, pela segunda vez, depois do diagnóstico, tive que ser internada e fiquei hospitalizada no oxigênio. Tive uma crise de ansiedade no posto de saúde, antes da internação, desmaiei, tive taquicardia, achei que ia morrer... Foi horrível! Amir e Noah estavam comigo. Noah até hoje não esquece quando desmaiei e segundo ele, "quando eu morri". Não esqueceu também quando entrei para a internação e que ele não pode se aproximar de mim, só me viu saindo da ambulância e entrando no hospital, quando acenei pra ele chorando, e entrei devastada.

Eu estava arrasanda, com muito medo de morrer e deixar uma criança tão pequena órfã de mãe. Parece exagero, mas não é. Nos noticiários, documentários, tudo mostrava que muita gente entrava nas internações dos hospitais e nunca mais tinha contato com a família até a morte. Esse era o meu grande medo. Graças a Deus eu consegui melhorar e depois de cinco dias pude ver novamente os grandes amores da minha vida!

Essa pandemia foi muito reveladora pra mim, em vários aspectos. Eu que já era muito grata por estar viva, agora estou muito mais sensível do que antes, muito mais, nem sei dizer quanto. Entendi que tenho vários sintomas de ansiedade, que já existiam bem antes da pandemia, mas que ficaram mais evidentes depois dela. Descobri também o meu gatilho, ou os meus gatilhos, que desencadeiam as crises. 

Depois que voltei do hospital, surtei. A iminência da morte me fez querer mudar tudo e me livrar do que mais me faz sofrer, que é a vivência conflituosa com minha própria mãe. Sendo assim, eu dei a louca, pedi dinheiro emprestado, organizei tudo e resolvi me mudar para o nordeste, passar um tempo mínimo de seis meses na Paraíba. Me inscrevi em alguns concursos por lá, procurei por aluguel mais barato mas num lugar bacana. Fomos de mala e cuia, eu e os meninos, Amir, cachorros e gatos, para Conde, na Paraíba. Aluguei a casa por seis meses, um pouco afastada da capital, porque queria sossego, viver em paz. Não levei móveis, fomos a família com as roupas do corpo e poucas malas. Não hesitei, dia 17 de novembro de 2020, desembarcávamos na Paraíba. Eu estava apreensiva, mas estava feliz! O Amir não iria ficar com a gente até fevereiro de 2021, somente eu e os meninos, Amir iria para lá depois da viagem dele ao Paquistão. Miguel iria viajar no início de dezembro para passar férias com a família no Rio, depois de mais de um ano sem vê-los, por causa da pandemia. Ou seja, eu ia ficar sozinha com Noah até minha mãe chegar no dia 14 de dezembro. No entanto, as coisas em Brasília não iam bem. Há mais de um ano e meio morando de favor na casa da minha tia, aliás um enorme favor que recebemos de bom grado, estávamos agoniados para mudar logo de lá, para nossa própria casa. Só que entre mil discussões, a venda da casa estava sempre em questão. Isso foi também um dos motivos de eu tentar me desvincular dessa dependência eterna dela e das coisas dela. A venda da casa era um dos meus desapontamentos com minha mãe porque depois da tentativa de ir embora do Brasil, eu tinha resolvido tentar me aquientar por aqui, tentar refazer minha vida profissional e ter um lugar fixo para morar com os meninos até eu ficar velhinha. Mas esse é um sonho só meu, infelizmente. Insisti bastante com minha mãe, ainda mais depois da pandemia, porque eu sempre afirmei que ela deveria morar com a gente por causa da idade avançada. Mas como eu já disse, esse é um desejo só meu! Também por isso a resolução de mudar tudo e fazer o que eu queria, que era morar num lugar longe da correria da cidade grande, um lugar em que os meninos pudessem ter qualidade de vida, mesmo que vivendo com mais simplicidade. No entanto, meus planos foram todos  frustrados quando recebi um telefonema do Amir dizendo que tava impossível ficar em casa. Resolveram fazer uma reforma na casa da minha tia na semana em que estávamos indo para a Paraíba. Foram dias bem difíceis até a volta para Brasília! Eu queria ficar livre dos problemas, mas eles foram comigo na mala. Eu que ja estava sentindo alguns sintomas de ansiedade, antes mesmo do telefonema do Amir, morando sozinha com os meninos, longe de tudo e todos, sem carro, sem muita grana, sem o Miguel em casa naquele momento, pois ele já havia ido para o Rio, surtei de novo! Só que agora estava longe de todos e sozinha com o Noah. Tive tontura, falta de ar, chorei muito ao telefone com minha tia, com o Amir e minha mãe. Não estava conseguindo ficar sozinha. Fiquei temendo pela vida do Noah, caso eu passasse muito mal, sozinha lá com ele. Pedi para minha mãe adiantar a passagem mas ela não queria porque queria acompanhar de perto a obra da casa, que já estava no final. Acabamos brigando de novo e ela disse que nem queria ir. Mudei a passagem dela para dia 23 de dezembro. Na segunda-feira, dia 07 de dezembro, eu estava muito mal com tontura, falta de ar e muito chorosa. O Amir me ligou e resolvemos que ele iria me buscar de carro naquela semana. Gastamos muito. Aliás, dessa tentativa toda, eu só me arrependo disso. Os gastos foram muitos pra quem não estava esbanjando dinheiro em plena pandemia. Imagine, mudar de cidade com dois meninos, dois cachorros e três gatas. Eu tinha que levar todo mundo, tava querendo começar uma vida nova e precisava de tudo que tenho na vida perto de mim! Só não pude levar meus livros. Ainda bem porque aí seriam mais gastos para levar e trazê-los, por causa do peso.

O meu surto não veio somente por estar sozinha na Paraíba com o Noah, e com sintomas de ansiedade, mas também porque o noticiário informava de uma nova onda da Covid no Brasil, ainda mais forte, e os concursos para os quais tinha me increvido na Paraíba tinham suas provas suspensas. Fiquei apavorada. Então, eu não me via apta a permanecer longe da família e dos amigos sem a perspectiva uma melhora real na vida. Voltamos naquela semana. A viagem foi bem sofrida, mais de dois mil queilômetros de carro, com menino e bichos dentro do carro. Não foi moleza. Mas a experiência foi bem válida! Eu percebi que não consigo viver sozinha, mesmo que eu queria. 

A parte boa disso tudo foi que pude ver minha madrinha, Maria das Graças, que está morando em olinda e eu não via há 22 anos. Foi uma experiência linda e dolorosa ao mesmo tempo. Eu pude reencontrá-la, mas para mim que sou completamente "do tato", não pude abraçá-la. Aquilo me doeu muito. Toda hora tinha o ímpeto do abraço, mas por precaução não pudemos nos abraçar. Foi um reencontro muito emocionante. Valeu todo o gasto. E às vezes penso que talves esse tenha sido o propósito de toda aquela viagem, pois por meio da minha visita, ela pode se reconectar, indiretamente, com minha mãe, amiga de anos que ela também não vê há muito tempo. Foi gratificante pra mim!

E por quê resolvi escrever no blog depois de tanto tempo? Bom, eu sempre prometo que vou tentar escrever todo dia, mas não consigo. Às vezes o dia é corrido, às vezes não tenho paciência mesmo pra sentar na frente do computador e desabafar. Acho que sem fazer a terapia como deveria, isso aqui é uma válvula de escape.

Ontem, no entanto, tive mais uma crise de ansiedade, depois de muito tempo que não ocorria, desde que voltei à Brasília. Senti falta de ar pela manhã e passei o dia inteiro chorando por tudo e qualquer coisa. Tive insônia, fui dormir às três da manhã, tive vontade de morrer... Nesses dias, não consigo ver perspectiva de melhora. Tudo vai mal e seu sei exatamente o que ocasiona esses pensamentos. Tô sofrendo muito com a pandemia, financeira e mentalmente. Penso em tanta coisa, em tanta gente, em tudo o que que poderia fazer pelos outros e não faço, porque não posso, porque não consigo, nas coisas que não dão certo pra mim e me fazem parecer estar num buraco sem fundo, numa escuridão sem quaquer fresta de luz há mais de seis anos. Mas sigo com fé. A vontade morrer vem da ilusão de que deixando essa vida aqui, eu vou me livrar de todo o meu sofrimento. Mera ilusão. 

Ontem à noite enquanto tomava banho, chorei muito, compulsivamente, pedindo a Deus pra me livrar do fardo que não tô conseguindo carregar. Apesar de ser muito grata à minha mãe pela minha vida e todas as regalias e oportunidades que tive até hoje por causa dela, exclusivamente por causa dela, por causa de sua força e determinação, me vejo muito diferente da pessoa que ela é hoje, e isso é o que me adoece por dentro e por fora. Apesar de que saber de todo o meu potencial intelectual, entre outros tantos atributos que tenho, que todos tm, eu sinto não "acontecer" por não ser merecedora disso, simplesmente porque eu não consigo ser tão boa com minha mãe como eu deveria! Já ouvi muitos conselhos que a nossa relação só mudaria se eu mudasse porque ela nunca mudaria. Confesso que já fiz várias tentativas, mas não consigo. E isso é o que mais me aflinge. E eu já desisti faz tempo de mudar qualquer coisa na nossa relação.  Eu joguei a toalha, desisti de entender, de ceder, de ter compaixão. Então, carrego uma culpa imensa por não conseguir ter dado certo a relação que era pra ser uma das mais bonitas entre dois seres, a de mãe e filhos.

Tento fazer diferente com os meninos, mas há um comportamento reflexivo muito difícil de controlar e mudar, apesar de todo esforço. Mas faço a minha parte. Tento dar a eles o que tive pouco, ou não tive, amor, carinho, acolhimento e compreensão. Não quero me fazer de vítima, mas eu fui negligenciada pela vida em muitos aspectos sentimentais, dentro daquilo que considero ser o mais importante, contrariamente ao que um mundo inteiro procura que é a realização material/financeira na vida. Eu não tive amor genuíno de pai, de avós, e gostaria de poder ter tido mais tempo ao lado da minha mãe, para que hoje pudéssemos ser amigas, e não só sobreviventes num mesmo espaço. Não é culpa dela, isso eu já compreendi. Como toda mãe, ela fez o que achava que era o certo, e possível, para que crescessemos saudáveis e completos. Toda mãe faz o que pode e aquilo que acredita ser o melhor para os filhos, indubitavelmente. Mas também não posso anular meus sentimentos e não dizer que dói, que não fez falta, que isso não teve incorrência na vida adulta.

E por aqui seguimos... tentando permancer vivos, com saúde, na esperança de dias melhores! 

A propósito, meu irmão chegou da Inglaterra há dois dias. Mais de um ano e meio sem nos vermos. Nos falamos, por mensagem, quando ele chegou a Brasília mas ainda não nos vimos. Me perguntaram se ele já havia chegado e se eu já havia visto ele. Eu disse que ainda não. Então a pergunta foi: "Eles estão em quarentena por causa da viagem?", eu respondi: "Não sei. Ele não se comunica comigo com frequência, só com minha mãe." 

Esse é um outro ponto relevante da minha vida. Mas isso fica para outro post porque o desabafo teria outro textão! 😅

E para finalizar, vamos de música... 💗💛💚💙💜

Por Helen Waqas

Em 25 de março de 2021