sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Meus aparelhos de telefone

A noite passada eu sonhei com você! E passamos por momentos tão bons... Até brincadeira de criança, com espuma de sabão, nós fizemos. Eu nem lhe contei desse sonho... Puro medo. Medo de ver você pelo olho mágico, ali, parado na minha porta e não saber o que lhe falar. Sabe que depois que pedi para você entrar ou sair da minha vida, fechando essa porta de vez, corri o risco de lhe ganhar e de perder você de mim para outras pessoas ou, ainda, de me perder de você para as outras pessoas. Pois é, acho que por isso me esqueci de contar como foi bom o sonho com você, na noite passada. Mas enquanto vi você partindo, enquanto admirava o ser jeito de andar, suas costas largas, seu jeito moleque, largado, a calma com que se afastava de mim... Ouvi meu telefone tocar. Neste exato minuto me veio ao pensamento a quantidade de aparelhos telefônicos que eu já havia possuído até este dia. E o intrigante foi que, em meio a esse devaneio, pensei em todos os relacionamentos afetivos que tive até hoje. Percebi que os aparelhos telefônicos haviam sido poucos, mas que para cada relacionamento, incrivelmente, havia um celular diferente na minha vida, cada um na sua época e em períodos distintos; E, talvez a maior curiosidade foi, portanto, a forma como mudei de um aparelho para outro; Na verdade, um deles eu havia trocado porque quis, mas todos os outros eu perdi em circunstâncias infortunas, sem que fosse por vontade própria. Então, sugando o máximo que eu podia da minha memória, relembrei o toque de cada um deles e como cada um teve sua marca em todos aqueles meus momentos. Eu tinha muito apreço pelos meus aparelhos de celular, por alguns um carinho bem mais especial do que por outros, mas cada um teve seu valor, cada um foi para mim tão importante, porque, em cada ocasião, ele era o único que eu tinha e que satisfazia todos os meus desejos; e por mais velhinho que estivesse, era com ele que eu podia contar. Lembro-me dos azuis, dos prateados e até dos multicolores... Lembro dos modernos e mais antigos. Lembro-me de todos! E lembrei de você... Corri para a porta, para tentar avistá-lo e, felizmente, você ainda estava atravessando a avenida. Voltei-me aos celulares, enquanto os carros passavam de um lado para o outro... Fiquei pensando o quanto eu não gostava de trocar de celular. Como eu gostaria de não precisar trocar o meu aparelho de celular atual. Ah, isso é muito desgastante e cansativo... Quando você está se acostumando com o novo toque, com o novo design, com as novas teclas, o jeito de pegá-lo, a nova cor... Quando você está gostando de ouvir o novo som que ele produz, começando a se deliciar com as inúmeras possibilidades que ele te proporciona, os novos comandos, as novas letrinhas do menu... Acostumado a carregá-lo de lá para cá, de cá para lá, em qualquer movimento, a qualquer hora... Quando você já reconhece o seu toque por mais longínquo que ele esteja e em meio a qualquer multidão... Nessa hora, o acaso chega. E mais uma vez você vai ter que fazer uma outra busca por aquele que mais lhe agrada, em meio há tantas ofertas, e vai demorar mais um tempão para decidir pelo melhor, novamente... E a pior parte, será refazer a sua agenda de telefones! Sim, porque você pode recordar-se e relembrar muitos nomes, mas com certeza muitos ficarão para trás, assim como mais um momento da sua vida ao lado daquele... Pensei em você! Há essas alturas já deveria estar bem longe... Mas quando olhei através da minha porta, você estava lá, sentando na calçada, do outro lado da rua, com o seu celular na mão, só esperando que eu lhe desse um toque e abrisse a porta novamente...

Por Helen de Sousa_30out08